ECOTOXICIDADE DE PARABENOS EM ORGANISMOS AQUÁTICOS: A INTERAÇÃO ENTRE MICROPLÁSTICOS DE POLIETILENO E METILPARABENO NOS ESTÁGIOS INICIAIS DE DESENVOLVIMENTO DO ZEBRAFISH (Danio rerio)
poluição aquática; contaminantes emergentes; biomarcadores; embriotoxicidade; peixes.
Os contaminantes emergentes são substâncias de origem antrópica que, embora detectadas nos compartimentos ambientais em variadas concentrações, não têm seu perfil ecotoxicológico bem elucidado e não são usualmente abrangidas pela legislação e fiscalização que diz respeito à qualidade ambiental. Com a crescente industrialização, cada vez mais moléculas e materiais são introduzidos no meio ambiente, em especial em meio aquático, tornando-se fonte de preocupação por seus possíveis efeitos deletérios para a biota local e para a saúde humana. Dentre estes, destacam-se os microplásticos, contaminantes de natureza heterogênea que têm em comum o tamanho abaixo de 5 mm e a presença ubíqua em ambientes aquáticos ao redor do mundo. Sua estrutura química, composta por polímeros de carbono de natureza primordialmente hidrofóbica, é capaz de adsorver moléculas lipofílicas que estejam presentes na coluna d’água, concentrando-as em sua superfície e potencialmente aumentando a toxicidade de tais substâncias quando deglutidas por organismos aquáticos. Os parabenos, conjunto de ésteres derivados do ácido p-hidroxibenzóico, são comumente utilizados como conservantes em diversas preparações industriais e encontrados em baixas concentrações em ambientes aquáticos, e é possível que sua toxicidade seja amplificada quando estes são adsorvidos por microplásticos. A toxicidade de microplásticos e parabenos e suas possíveis interações foram abordadas ao longo desta dissertação. Foi realizada uma revisão da literatura referente ao estado da arte do conhecimento acerca da bioacumulação e toxicidade de parabenos em organismos aquáticos, sugerindo uma grande heterogeneidade de protocolos experimentais e concentrações utilizadas, bem como predominância de poucas espécies-modelo. A seguir, testou-se a partir do teste de toxicidade embriolarval em zebrafish (ZELT) a hipótese de que a exposição de embriões e larvas de zebrafish (Danio rerio) a uma combinação de três diferentes concentrações ambientalmente relevantes de metilparabeno (MeP — 0,01, 0,1 e 1 µM) com microplásticos de polietileno (~35 µM, 3,4 mg/L) levaria a efeitos embriotóxicos mais pronunciados do que com a exposição isolada a cada um dos dois contaminantes, bem como a hipótese de que a toxicidade do MeP é concentração-dependente. Os resultados do ZELT sugerem que concentrações ambientalmente relevantes de metilparabeno são capazes de elicitar cardiotoxicidade em embriões de zebrafish, embora a hipótese de que a mistura com microplásticos de polietileno amplifique sua toxicidade não tenha sido confirmada. Chama-se atenção para a necessidade de mais estudos que empreguem concentrações e vias de exposição realistas, buscando um panorama mais preciso acerca das consequências da presença de tais contaminantes em meio aquático.