Uma das maneiras de defender a existência de Unidades de Conservação é por meio da identificação das suas mais variadas características, formas de uso e formas de valor – tangível e intangível. As Práticas de Geração de Valor são diferentes formas de usos socioambientais realizadas pelos atores sociais, e este ‘Valor’ podem ser capturados pelos grupos de beneficiários ou pela própria área natural protegida. O presente estudo tem por objetivo desenvolver um inventário abrangente das Práticas de Geração de Valor atualmente em curso nas Áreas de Proteção Ambiental de Alagoas, reunindo informações de interesse público que possam contribuir para o planejamento e tomada de decisões. O escopo do estudo abrange oito Áreas de Proteção Ambiental situadas no Estado de Alagoas, e para compreender as dinâmicas entre gerência e usos sociais, a metodologia se baseou na Estruturação de Ativos em Áreas Protegidas. As Práticas de Geração de Valor foram identificadas por meio de entrevista com os gestores, considerados atores socioambientais, interligados às Áreas de Proteção Ambiental. A lista de Práticas de Geração de Valor obtida apresenta 72 atividades, que variam de acordo com as especificidades ecológicas e socioeconômicas de cada região. A Área de Proteção Ambiental com mais práticas identificadas foi a Costa dos Corais com 44 práticas, seguida de Marituba do Peixe com 40, Pratagy com 37, Serra da Caiçara 34, Catolé e Fernão Velho 32, Piaçabuçu 31, Murici 29 e Santa Rita 25. Ao conhecer as principais Práticas de Geração de Valor realizadas em cada Unidade de Conservação, a gestão pode mitigar atividades prejudiciais ao mesmo tempo em que promove as práticas percebidas como positivas pela gestão.

Os parabenos têm sido amplamente utilizados em produtos industriais,  cosméticos e alimentícios, devido à sua eficácia na prevenção de contaminação microbiológica e na preservação de produtos. Contudo, o crescente uso desses compostos tem gerado preocupações sobre seu impacto na saúde animal, humana e ambiental.  Embora os parabenos sejam habitualmente detectados em diferentes ambientes aquáticos,  a compreensão de seus efeitos sistêmicos sobre organismos aquáticos ainda é limitada. O presente estudo utilizou como modelo animal fêmeas adultas de fêmeas de zebrafish (Danio rerio) para avaliar os efeitos ecotoxicológicos da exposição subaguda ao metilparabeno (MeP), um dos parabenos mais utilizados e detectados, bem como ao ao ácido-4 hidroxibenzóico, seu principal metabólito. Após a exposição das fêmeas à concentrações ambientalmente relevantes de MeP e 4-HB (1,0 e 10,0 µg/L) por 7 dias, foram avaliados múltiplos biomarcadores no fígado, tais como  parâmetros biométricos e índice hepatossomático, de desbalanço redox e estresse oxidativo no fígado. Os dados biométricos e o IHS não apresentaram alterações após o curto período de exposição.A atividade antioxidante foi alterada, com um aumento significativo na produção de espécies reativas de oxigênio (EROS) em todos os grupos expostos a ambos parabenos.   Os animais expostos ao MeP e o 4-HB apresentaram uma redução na atividade das enzimas superóxido dismutase (SOD) e catalase (CAT), com reduções mais acentuadas associadas ao 4-HB, especialmente na maior concentração. Já os níveis de tiol total (T-SH), biomarcadores da capacidade antioxidante, bem como a atividade da enzima glutationa-S-transferase (GST) não tiveram qualquer tipo de alteração em relação ao grupo controle. A peroxidação lipídica, avaliada pelos níveis de malondialdeído (MDA), aumentou significativamente nos grupos expostos ao 4-HB e a maior concentração de MeP, indicando dano oxidativo às diferentes membranas celulares.  Por outro lado, o aumento nos níveis de proteína total nos grupos tratados com 4-HB indica possíveis respostas adaptativas do organismo. A  Nossos achados corroboram estudos prévios nos quais o MeP provoca  desequilíbrio redox e  danos oxidativos. Entretanto, de forma inédita, demonstramos que a exposição ao 4-HB causou maior toxicidade hepática em comparação ao MeP, com efeitos mais expressivos na redução das defesas antioxidantes e no aumento da peroxidação lipídica.Os resultados demonstraram que o 4-HB causou maior impacto no fígado das fêmeas de zebrafish em comparação ao MeP. Os resultados sugerem que a exposição subaguda a ambos parabenos, e especialmente ao ao 4-HB,  representa um maior impacto no  homeostase redox e possivelmente ao  metabolismo hepático em peixes, evidenciando a necessidade de investigações mais aprofundadas sobre os ecotoxicológicos da exposição ao 4-HB, visto que se trata de um  metabólito comum aos diferentes parabenos parentais e também tem sido  ubiquamente detectado no ambiente e amostras de organismos aquáticos.

Vários fatores, como ampla distribuição geográfica, alta densidade populacional e
presença em áreas urbanas, tornam certas espécies mais detectáveis e, portanto,
mais interessantes para os humanos. Contudo, insetos e outros invertebrados são
frequentemente percebidos como menos atraentes devido a associações negativas
com ameaças à saúde e ao bem-estar humanos, resultando em sentimentos de nojo
e medo. Esses preconceitos refletem uma resposta adaptativa, mas ofuscam o valor
ecológico desses organismos, que muitas vezes permanece desconhecido.
Considerando os inúmeros serviços ecossistêmicos fornecidos pelos insetos, a
perda desses organismos é alarmante e exige ações imediatas para sua
conservação. No entanto, os investimentos financeiros em conservação
frequentemente favorecem espécies mais carismáticas, deixando insetos menos
atraentes e igualmente ameaçados de lado. Esse viés é evidenciado na baixa
visibilidade social dos insetos, que representa uma barreira significativa para sua
proteção. Nesta tese, investigamos a interação do público brasileiro com insetos,
destacando os aspectos de visibilidade e atratividade desses organismos na
perspectiva humana. No primeiro capítulo, analisamos a variação temporal do
interesse da população por grupos de insetos utilizando a plataforma Google
Trends, e descobrimos que, apesar da rica diversidade entomológica do Brasil, o
interesse público se mantém constante ao longo do tempo. No segundo capítulo,
examinamos o engajamento com fotografias de insetos no Flickr, observando um
declínio nas postagens ao longo do tempo e uma preferência por táxons
visualmente atraentes. Esses achados sugerem que, embora existam oportunidades
para a educação ambiental, a diminuição do conteúdo relacionado a insetos pode
comprometer os esforços de conservação. Assim, nossa pesquisa reforça a
necessidade de estratégias que promovam a valorização da entomofauna brasileira
e a formulação de políticas de conservação eficazes.

Nos ecossistemas de recifes rasos, a diversidade biológica é impulsionada pela presença de habitats ecologicamente diversos. À medida que a estrutura física desses habitats se torna mais complexa, maior será a oferta de diferentes tipos de refúgio, oportunidades de forrageamento e recursos que estão ligados à alta diversidade e abundância de espécies. Deste modo, a heterogeneidade de habitats no recife é fundamental para a promoção de biodiversidade. Entretanto, frequentes e intensas ameaças globais e locais estão provocando rápidas mudanças na cobertura destes ecossistemas, causando a perda de habitats e espécies que contribuem diretamente para a manutenção do funcionamento e de serviços ecológicos. Uma das alternativas para verificar a contribuição dos habitats e das comunidades associadas ao recife é a utilização da diversidade funcional de grupos que desempenham papeis significativos no ecossistema. Os Nematoda de vida livre, possuem uma diversidade que pode atuar como elo para investigar as interações complexas entre a diversidade biológica e o equilíbrio funcional dos ecossistemas, principalmente devido aos seus diferentes e importantes papeis ecológicos. As respostas à influência dos diferentes habitats recifais rasos sobre a estrutura taxonômica e funcional dos Nematoda foi evidenciada nesta dissertação ao longo de dois capítulos. No primeiro, os resultados indicaram que o topo recifal apresenta uma assembleia única, mais diversa taxonomicamente e funcionalmente, com diferenças em relação às assembleias de piscinas adjacentes. Estas diferenças são dominadas por processos de substituição. Entidades Funcionais (EFs) dominantes apresentaram combinações de características relacionadas a ambientes perturbados pelo homem, sugerindo que os sistemas de recifes de coral estudados estão sofrendo degradação e que os atributos funcionais dos Nematoda podem ser uma ferramenta sensível para investigar perturbações nos ecossistemas de recifes de coral. No segundo capítulo, os Nematoda apresentaram diferenças taxonômica e funcionais entre os hábitats estudados, resultando em 4 grupos dentre os 7 habitats e as diferenças foram também dominadas por processos de substituição, com elevada especificidade e fidelidade dos gêneros e EFs aos habitats. As assembleias apresentaram uma baixa redundância funcional e elevada vulnerabilidade, com a maioria das EFs compostas por um único gênero. Estes resultados apontam para a importância da manutenção da heterogeneidade de habitats na manutenção da diversidade taxonômica e funcional dos recifes de coral e, consequentemente, das funções e serviços associados a este ecossistema

Formigas de correição do gênero Eciton (Formicidae: Dorylinae) são insetos carnívoros que forrageiam coletivamente. Na Mata Atlântica, ocorrem 11 espécies, com apenas duas registradas no Centro de Endemismo Pernambuco (CEP), onde mais de 30% das espécies de aves da região dependem destas para forragear. Estas interações são vitais, pois o colapso desse fenômeno está ligado a extinções em cascata de aves insetívoras. Investigamos a presença e história natural das espécies de Eciton e aves associadas nas áreas de conservação da ESEC de Murici e REBIO de Pedra Talhada, os maiores remanescentes de Mata Atlântica do CEP. Os dados foram coletados buscando ativamente correições. Em nosso estudo, registramos 41 correições, sendo 15 de Eciton burchellii, uma de Eciton mexicanum, nove de Eciton hamatum e uma de Eciton vagans, sendo essas duas últimas ocorrências novas para o CEP. Todas as correições de E. burchellii tinham aves associadas, enquanto E. hamatum mostrou associação com aves apenas uma vez. Registramos 10 espécies de aves ameaçadas de extinção seguindo as correições, destacando a importância desses insetos como fonte de alimento na região. Além disso, analisou pela primeira vez a estrutura das assembleias de aves seguidoras de formigas (ASF) de correição no CEP, investigando a diversidade taxonômica e testando a hipótese de que a espécie mais especializada (espécie nuclear) desempenha um papel fundamental na estrutura das assembleias de ASF. Os resultados indicam que a abundância de Pyriglena pernambucensis explica grande parte da riqueza e diversidade de aves nas assembleias, enquanto que a temperatura explica melhor a dissimilaridade dessas assembleias. Essas descobertas contribuem não apenas para a compreensão da ecologia das aves na região, mas também para a promoção de medidas de conservação eficazes, visando a proteção das espécies ameaçadas, além disso nossas observações contribuem para o conhecimento da fauna local, com o registro de duas novas espécies de formigas de correição para o CEP.

Os contaminantes emergentes são substâncias de origem antrópica que, embora detectadas nos compartimentos ambientais em variadas concentrações, não têm seu perfil ecotoxicológico bem elucidado e não são usualmente abrangidas pela legislação e fiscalização que diz respeito à qualidade ambiental. Com a crescente industrialização, cada vez mais moléculas e materiais são introduzidos no meio ambiente, em especial em meio aquático, tornando-se fonte de preocupação por seus possíveis efeitos deletérios para a biota local e para a saúde humana. Dentre estes, destacam-se os microplásticos, contaminantes de natureza heterogênea que têm em comum o tamanho abaixo de 5 mm e a presença ubíqua em ambientes aquáticos ao redor do mundo. Sua estrutura química, composta por polímeros de carbono de natureza primordialmente hidrofóbica, é capaz de adsorver moléculas lipofílicas que estejam presentes na coluna d’água, concentrando-as em sua superfície e potencialmente aumentando a toxicidade de tais substâncias quando deglutidas por organismos aquáticos. Os parabenos, conjunto de ésteres derivados do ácido p-hidroxibenzóico, são comumente utilizados como conservantes em diversas preparações industriais e encontrados em baixas concentrações em ambientes aquáticos, e é possível que sua toxicidade seja amplificada quando estes são adsorvidos por microplásticos. A toxicidade de microplásticos e parabenos e suas possíveis interações foram abordadas ao longo desta dissertação. Foi realizada uma revisão da literatura referente ao estado da arte do conhecimento acerca da bioacumulação e toxicidade de parabenos em organismos aquáticos, sugerindo uma grande heterogeneidade de protocolos experimentais e concentrações utilizadas, bem como predominância de poucas espécies-modelo. A seguir, testou-se a partir do teste de toxicidade embriolarval em zebrafish (ZELT) a hipótese de que a exposição de embriões e larvas de zebrafish (Danio rerio) a uma combinação de três diferentes concentrações ambientalmente relevantes de metilparabeno (MeP — 0,01, 0,1 e 1 µM) com microplásticos de polietileno (~35 µM, 3,4 mg/L) levaria a efeitos embriotóxicos mais pronunciados do que com a exposição isolada a cada um dos dois contaminantes, bem como a hipótese de que a toxicidade do MeP é concentração-dependente. Os resultados do ZELT sugerem que concentrações ambientalmente relevantes de metilparabeno são capazes de elicitar cardiotoxicidade em embriões de zebrafish, embora a hipótese de que a mistura com microplásticos de polietileno amplifique sua toxicidade não tenha sido confirmada. Chama-se atenção para a necessidade de mais estudos que empreguem concentrações e vias de exposição realistas, buscando um panorama mais preciso acerca das consequências da presença de tais contaminantes em meio aquático.

As áreas protegidas (APs) desempenham um papel vital na proteção do patrimônio natural e cultural, ao mesmo tempo que apoiam os meios de subsistência locais. No entanto, apesar dessa importância, no Brasil, elas enfrentam desafios ligados à falta de recursos financeiros e a percepção de baixa eficácia da gestão, o que pode resultar na falta de apoio da sociedade com relação a essas áreas. Diante desse cenário, é necessário compreender melhor as percepções e interesses do público pelas APs brasileiras. Nesta tese, foram utilizados dados da rede social Twitter (renomeada X) para explorar tendências de interesse e percepções sobre as áreas protegidas no Brasil. Para isso, na primeira fase, foram coletados tweets em português sobre todas as categorias de APs no período de 2011 a 2020. Em seguida, uma metodologia inovadora de análise de sentimentos foi aplicada, focando especificamente nos parques nacionais (PARNAs) brasileiros, e ampliando o período de coleta de dados até 2022. Os conteúdos textuais dos tweets foram analisados com base em métricas de postagem e engajamento dos usuários (curtidas e retuítes), classificação dos sentimentos expressos no texto e modelagem de tópicos. Os resultados indicam que o número de usuários/tweets que postam sobre as APs brasileiras permaneceu estável ao longo do período amostral, no entanto, o engajamento cresceu consideravelmente a partir de 2018, coincidindo com mudanças no governo federal. Embora os parques nacionais tenham recebido mais menções, especialmente relacionadas as atividades turísticas, os tweets relacionados à conflitos nas APs atraíram mais discussões. A análise de sentimentos identificou 18.388 (17,30%) de postagens expressando sentimentos negativos em relação aos PARNAs, sendo a maioria relacionada aos incêndios florestais ocorridos entre 2011 e 2017 e ao impacto das decisões governamentais que afetaram os esforços de conservação pós-2019. Foram identificados seis tópicos de discussão proeminentes: (1) Incêndios florestais; (2) Segurança; (3) Regramentos; (4) Vida selvagem morta por atropelamento; (5) Privatização (Concessões); e, (6) Falta de recursos financeiros, refletindo a variedade de sentimentos negativos em relação aos parques. Além disso, a modelagem de tópicos por parques revelou-se benéfica na identificação de diferentes problemas e conflitos nos cinco PARNAs mais tuitados, facilitando assim ações de conservação direcionadas. Neste sentido, o estudo destaca a importância da análise de dados das redes sociais para compreender o interesse público e promover uma gestão mais eficaz das áreas protegidas. Isso pode subsidiar ações de conservação, melhorar a experiência dos visitantes e comunicar a importância das APs para a sociedade. Em última análise os resultados ressaltam o valor da culturômica para identificar lacunas e promover melhorias que alcancem o apoio público as áreas protegidas brasileira.

As Plantas Alimentícias Silvestres (PAS) possuem grande potencial para a alimentação humana, porém são subutilizadas, principalmente em áreas urbanas. Resultando em dietas pouco diversificadas e erosão do conhecimento sobre essas plantas. No entanto, elas oferecem benefícios nutricionais, ecológicos e sociais. Então, para aproveitar esse potencial, esta pesquisa buscou, a partir de uma abordagem interdisciplinar, fornecer bases teóricas e aplicadas para promover a conservação biocultural de Myrciaria floribunda (H. West ex Willd.) O. Berg (cambuí). Essa tese é composta por três capítulos. O capítulo 1 é ancorado pela etnobiologia e ecologia, explorando a sustentabilidade da coleta da espécie, e os dois seguintes têm como foco a psicologia do consumidor, explorando a relação entre pistas extrínsecas, expectativas e disposição a consumir. A tese abarcou extrativistas e potenciais consumidores do cambuí. No primeiro artigo, avaliamos a estrutura populacional do cambuí em Piaçabuçu (AL) e identificamos, a partir da percepção local, áreas de coleta, histórico de disponibilidade, causas de diminuição e possíveis soluções. Os resultados apontam que o extrativismo do fruto de cambuí está no limiar entre sustentável e não sustentável. Além disso, desmatamentos e queimadas contribuem para a diminuição dos indivíduos. No capítulo 2, a partir de uma amostra nacional, buscamos entender se a associação terminológica de um suco a base de PAS a uma fruta convencional ou a ambientes florestais, influencia nas expectativas de potenciais consumidores. No capítulo 3, focamos na região metropolitana de Alagoas para compreender melhor o contexto local e, investigar as expectativas e percepções dos consumidores. Também testamos a influência terminológica avaliada no capítulo 2, além de testar se a associação gastronômica (através de misturas) de sucos a base de PAS com sucos convencionais influencia nas expectativas e aceitação. Os resultados dos capítulos 2 e 3 sugerem que, em alguns casos, os nomes atribuídos aos produtos interferem nas expectativas sobre eles ou na sua aceitação. Por exemplo, a associação terminológica de um produto à ambientes florestais (nomes com sufixos da mata ou da floresta) podem gerar expectativas negativas em relação ao sabor entre os indivíduos mais neofóbicos.  Além disso, o capítulo 3 evidenciou que misturas gastronômicas ampliam a aceitação do produto. Desse modo, existe um amplo potencial para aumento do interesse no cambuí a partir da sua introdução em misturas com frutas convencionais e a partir de estratégias de marketing que foquem no papel das pistas extrínsecas. No entanto, essas estratégias devem vir acompanhadas de planos de manejo sustentável, considerando o cenário de ameaças identificadas para a espécie. O beneficiamento de produtos para atingir novos mercados pode ser uma estratégia economicamente e ambientalmente viável, pois foca na agregação de valor em vez de focar no aumento da coleta. Nesse contexto, é interessante que no marketing, o produto seja associado a um produto popularmente conhecido, para familiarizá-lo aos novos consumidores.

As comunidades de peixes marinhos costeiros desempenham um papel importante na produtividade, a estabilidade das cadeias alimentares e conectividade entre habitats, sendo fundamental na funcionalidade dos ecossistemas marinhos. No Atlântico Sul, a estrutura das comunidades é resultado de fatores como a dinâmicas de descarga dos rios, a precipitação e a disponibilidade de recursos, que pode influenciar não só a composição, mas a diversidade funcional dessas comunidades. Compreender a estrutura funcional dessas comunidades é essencial não apenas para a gestão sustentável dos recursos, mas também para a conservação eficaz dos ecossistemas costeiros. Nesse contexto, a pesquisa investiga a diversidade taxonômica e funcional e os fatores que influenciam as comunidades de peixes em ambientes costeiros lodosos no Atlantico Sudoeste Sul. Os resultados revelam diferenças significativas na composição taxonômica entre as áreas estudadas, explicadas em parte pela distribuição dos estuários da região. A presença de diferentes pools de espécies em áreas costeiras resulta em padrões diversos de biodiversidade de peixes, indo além da simples riqueza e abundância de espécies. Esses achados contribuem para uma melhor compreensão da estrutura e dinâmica das comunidades de peixes em ambientes costeiros lodosos. Além disso, a análise dos dados em escala regional demonstra padrões distintos de distribuição e composição das espécies ao longo das províncias do Sudoeste do Atlântico Sul, indicando a influência de fatores ambientais e biogeográficos na estrutura taxonômica e funcional das comunidades. Esses resultados podem contribuir significativamente para o conhecimento da ecologia marinha na região e fornecendo subsídios importantes para a conservação da biodiversidade marinha no na região.

A plasticidade individual e variabilidade interespecífica desempenham um papel crucial na capacidade dos peixes de responder a mudanças ambientais o que influencia o ciclo de vida, como crescimento e maturação sexual. Em espécies congenéricas e morfologicamente semelhantes, esses mecanismos de plasticidade podem permitir a coexistência, gerando divergências sutis nas características da história de vida. O objetivo geral desta tese foi avaliar os traços de história de vida de forma interespecífica e a plasticidade individual no uso do habitat de espécies de Mugil que coocorrem em ambientes tropicais, verificando as implicações para o manejo e conservação. Para tanto, indivíduos de três espécies de Mugil foram capturados em quatro estuários tropicais e os seus otólitos foram utilizados, tanto para mensurar a idade quanto para fazer uma cronologia química dos primeiros estágios de vida. A pesquisa foi estruturada em quatro capítulos complementares que abordam diferentes aspectos da ecologia populacional e pesca. No primeiro, foram discutidos mecanismos de coexistência entre as espécies, relacionados a fatores abióticos. Verificou-se que M. curema é influenciada por fatores como temperatura, oxigênio dissolvido e turbidez e ocupa três ambientes durante a primeira fase do ciclo de vida enquanto M. rubrioculus é mais afetada pela variação na salinidade e se restringe à parte externa do estuário e ao mar. Então, apesar de filogeneticamente próximas, as duas espécies exibem diferentes padrões de uso do habitat. O segundo capítulo investiga o crescimento polifásico alométrico em otólitos, que se mostrou um bom indicador de eventos críticos do ciclo de vida, como a maturação sexual. As espécies de Mugil exibiram diferentes padrões de crescimento e maturação, sugerindo uma assincronia nos ciclos de vida que facilita a coexistência, sendo que M. rubrioculus (K = 0,31) apresenta maior velocidade de crescimento e M. liza um crescimento mais lento (K = 0,21), enquanto M. curema (K=25) é a espécie intermediária. Foi observado que a velocidade de crescimento possui dois pontos de mudança ao longo da vida, sendo o segundo associado a migração reprodutiva para o mar. No terceiro capítulo, foi analisada a dependência estuarina e a plasticidade no uso do habitat. M. liza foi a espécie que passou mais tempo na fase inicial de vida no estuário. Por outro lado, M. rubrioculus, apresentou menor dependência estuarina. M. curema destacou-se pela maior plasticidade individual no uso de habitats, exibindo maior migração parcial. O quarto capítulo conclui que M. liza é a espécie mais vulnerável à pesca, com uma redução para apenas 20% do estoque original. Essa vulnerabilidade pode ser relacionada à sua menor plasticidade e maior permanência no estuário. O estudo destaca a importância de incluir o Conhecimento Ecológico Local (LEK) no manejo sustentável das espécies, por meio de uma abordagem participativa que envolva pescadores, gestores e cientistas. Assim, conclui-se que a coexistência das espécies de Mugilidae é sustentada por complexos mecanismos ecológicos, nos quais o uso do habitat e a plasticidade fenotípica desempenham papéis cruciais. A gestão adequada desses recursos deve considerar a variabilidade ambiental, as peculiaridades de cada espécie e as interações entre diferentes agentes sociais, como pescadores, gestores e cientistas pesqueiros, para promover a sustentabilidade dos estoques pesqueiros de forma horizontal e participativa.

Historicamente, as alterações antrópicas afetam profundamente a dinâmica costeira e a manutenção dos ecossistemas. Essas alterações e o crescimento da população humana são conhecidos por serem as origens de muitas ameaças às tartarugas verdes (Chelonia mydas), um megaherbívoro marinho, de vida longa. Aqui, buscamos entender a distribuição espacial de C. mydas na mais extensa unidade de conservação marinha federal brasileira - a Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais (APACC) - e como ela está associada a diversas ameaças: pesca, fibropapilomatose, ingestão de lixo e empobrecimento da dieta. Para isso, usamos imagens aéreas obtidas por drones de pesquisa para identificar a localização das tartarugas, e um banco de dados de tartarugas encalhadas com informações sobre: presença/ausência e severidade de fibropapilomatose, quantidade de plástico ingerido e identificação de itens alimentares ingeridos. Também utilizamos dados de lixo nas praias e cobertura bentônica da APACC. As análises estatísticas escolhidas para esta pesquisa foram Correlação de Spearman, Teste-T e GLMs. Nossos achados demonstram que C. mydas apresenta uma distribuição heterogênea ao longo da costa, com áreas de alta concentração. As regiões central e sul da APACC são os locais de maior densidade de tartarugas. Por fim, destacamos as cidades de Maceió e Japaratinga como áreas prioritárias para a intensificação das ações conservacionistas, por apresentarem altos níveis de múltiplas ameaças e alta densidade de tartarugas.

O continuum rio-estuário, comporta diversos ambientes altamente produtivos, relacionados à constantes flutuações das condições ambientais pela mistura de água doce e salgada, criando ambientes estratificados que filtram a ocorrência das espécies no decorrer da sua extensão. Os diversos habitats destes ecossistemas aquáticos de transição, vem sendo submetidos a intensos impactos decorrente do barramento dos rios e a introdução de espécies não-nativas. Na presente dissertação abordamos duas questões, tendo como modelo o sistema continuum rio-estuário do baixo rio São Francisco, historicamente impactado pela construção de hidroelétricas e introdução de espécies. Para a primeira questão foi estudada a resposta da estrutura taxonômica da comunidade de peixes a fatores fisiográficos e sazonais, relacionados à produtividade biológica. Para a segunda questão, foi verificado o impacto de espécies não-nativas na diversidade funcional da comunidade baseada em traços tróficos de alta resolução. O continuum foi dividido espacialmente em três regiões de acordo com a geomorfologia do baixo São Francisco:  Depressão (alto), Tabuleiro (médio) e Delta (baixo). Dados bimensais sobre composição e abundância por espécies de peixes, bem como, dados quantitativos da dieta, foram coletados entre 2019 e 2021, com diversos apetrechos de pesca. Simultaneamente, foram registrados dados abióticos (salinidade, profundidade, temperatura, clorofila a, turbidez, condutividade, oxigênio dissolvido). Os resultados indicam que a sazonalidade, modelada pela variação pluviométrica, não influencia a estrutura taxonômica da comunidade de peixes no continuum rio-estuário do rio São Francisco, porém existe diferenciação espacial na composição e uso de habitat definidos principalmente pela salinidade, neste sentido, foi discutido o impacto da perda do efeito sazonal em ambientes represados. Em relação ao impacto das espécies não-nativas na comunidade nativa do baixo rio São Francisco, foram utilizados cenários de simulação de componentes da diversidade funcional, avaliando o impacto na estrutura trófica, mediante a retirada de espécies não-nativas por região fisiográfica. Tendo como base o conceito de partição de nicho trófico, foram estimados traços funcionais tróficos contínuos de alta resolução, mediante análise da dieta das espécies nativas e não- nativas. As espécies não-nativas foram retiradas nos cenários de simulação, tendo como critério o nível trófico. Foram identificadas 10 espécies não nativas com níveis tróficos variando entre detritívoras e carnívoras, sendo a ocorrência e abundância relacionada com a região ao longo do continuum. Os resultados das simulações, conforme a retirada das espécies não nativas do menor ao maior nível trófico e posterior recalculando os índices funcionais indicam impacto na estrutura funcional da comunidade nativa. A partir da primeira retirada da espécie introduzida, ocorre uma expansão no espaço funcional na região do tabuleiro, sendo possível inferir que o nicho trófico das espécies nessa região está compactado pelas espécies não-nativas. Na região depressão, ocorre homogeneização funcional. No delta do rio, há um processo de filtragem ambiental, sendo as espécies não-nativas barradas pela maior salinidade, contudo, apesar de todas as espécies não-nativas encontradas serem de água doce, houve ocorrência em baixa abundância de Bryconops melanurus, Cichla kelberi, Metynnis lippincottianus, Oreochromis niloticus, Pellona castelnaeana e Trachelyopterus galeatus.

As mudanças globais têm causado diversas alterações nos sistemas costeiros por meio da poluição, sobre-exploração de recursos, aumento da temperatura na atmosfera e oceanos, além de eventos climáticos extremos. Essas mudanças atingem diversas regiões do planeta, causando impactos profundos nos sistemas socioecológicos, sobretudo nas comunidades humanas pesqueiras que dependem fortemente dos recursos marinhos. Nesta pesquisa, avaliamos o impacto das mudanças ambientais em duas comunidades costeiras de pescadores no Nordeste do Brasil, situadas na Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais (APACC), a maior área protegida marinha costeira do Brasil. Com base em entrevistas semiestruturadas, investigamos a percepção de pescadores e pescadoras a respeito das mudanças ocorridas na atividade pesqueira, identificando as espécies mais impactas e as causas do impacto. Os resultados indicam que os moradores locais percebem impactos das mudanças globais nos recursos pesqueiros de forma ampla e multidirecional em diferentes sistemas e subsistemas, além de identificar espécies de alta importância para a subsistência e econômica locas e que, de acordo com a percepção local, estão com suas populações em franco declínio ou até mesmo extintas localmente, como é o caso do massunim (tivela mactroides), berdigão (Anomalocardia brasiliana), ubarana (Albula vulpes), xaréu (Canranx hippos) garoupa (Epinephelus marginatus) e sirigado (Mycteroperca bonaci), por exemplo. Nosso estudo reforça a importância do conhecimento ecológico local na estruturação de políticas públicas de conservação, devido ao seu alto potencial de elucidar padrões complexos em sistemas sociais e ecológicos tropicais, que na maioria das vezes carece de programas de monitoramento de longo prazo padronizados. 

São crescentes os estudos que apontam para os efeitos das atividades antropogênicas sobre o meio ambiente, sobretudo nos ecossistemas aquáticos. As demandas de consumo da população mundial têm afetado negativamente os recursos hídricos, devido à recepção nos corpos d'água de produtos de higiene pessoal, agrícolas, efluentes domésticos e industriais. Neste trabalho foi utilizado o sistema modelo zebrafish (Danio rerio) para avaliar a qualidade ambiental de uma bacia hidrográfica da região metropolitana de Maceió, no nordeste brasileiro. Amostras de água foram coletadas segundo protocolos específicos em três localidades distintas (P1, P2 e P3), entre a nascente e a foz do Rio Pratagy, com diferentes graus de antropização e em dois períodos, em março e junho de 2022. As amostras foram destinadas à determinação dos parâmetros físico-químicos da água e de diferentes classes de contaminantes, bem como para o teste de toxicidade embrio-larval com o zebrafish (ZELT), durante 144 horas, com a análise de biomarcadores letais, não letais, cardiotoxicidade e neurotoxicidade. Foram detectados nas amostras analisadas contaminantes de diversas classes, alguns desses acima do limite estabelecido, outros de uso proibido em grande parte do globo, inclusive no Brasil, como o Diclorodifeniltricloroetano (4,4 DDT), banido há décadas. Em relação à taxa de mortalidade, foi observado apenas um aumento significativo no P3 da primeira coleta. Não houve alteração na taxa de eclosão entre os períodos e pontos amostrais, não apresentando diferença estatística nos dois períodos analisados. Já a análise do número de movimentos espontâneos, um biomarcador de neurotoxicidade, apontou diferença entre P3 e o controle negativo na primeira coleta e P2 e controle na segunda amostragem. O conjunto de dados avaliados corroboram a influência negativa das atividades antrópicas praticadas no entorno da bacia do rio Pratagy e que estes podem afetar a sobrevivência e fisiologia dos organismos aquáticos, impactando assim este ecossistema aquático.

Na costa tropical do Brasil, mosaicos de habitats estuarinos e marinhos se interligam para formar paisagens altamente biodiversas, influenciando a fauna de peixes. O conhecimento sobre as relações dessas paisagens entre a composição das assembleias de peixes é uma ferramenta importante para a eficiência da conservação. O presente estudo teve como objetivo avaliar a composição das assembleias de peixes em diferentes habitats estuarinos e marinhos de duas localidades tropicais do Brasil, com a presença de áreas marinhas protegidas. As coletas foram desenvolvidas na Reserva Extrativista Marinha da Lagoa do Jequiá (RXJ), em Jequiá da Praia (AL) e em Porto Seguro (PTS) (BA). Para a obtenção dos dados sobre as assembleias de peixes foram utilizados vídeos subaquáticos remotos com isca. Ao todo foram contempladas 80 amostras (40 por localidade), distribuídas entre os habitats de manguezal, artificiais estuarinos, recifes costeiros de arenito e recifes de coral. Foram contabilizadas para a RXJ 21 Famílias, 40 táxons e 1180 indivíduos, já para PTS, foram registradas 23 Famílias, 50 táxons de peixes e 938 indivíduos. A similaridade foi baixa entre as localidades (11%), porém, foram compartilhadas 29 espécies e 14 famílias entre RXJ e PTS, não havendo diferenças significativa entre as estruturas das assembleias. RXJ dispôs de similaridade de 18% entre os seus habitats, enquanto a RXJ obteve o valor de 31%. Fatores abióticos como profundidade e espacialização dos habitats constituíram importantes agentes estruturantes entre as assembleias de peixes para RXJ e PTS. Os recifes de coral se desatacaram com maiores riquezas e abundâncias, porém, esse fato não diminui a importância dos demais habitats naturais, como os manguezais. Nesse âmbito, esses resultados são importantes para o conhecimento sobre a estrutura das assembleias de peixes de RXJ e PTS, sobretudo, paras as suas áreas marinhas protegida, podendo contribuir no fomento de iniciativas de manejo da ictiofauna recifal de forma inédita.

A meiofauna, grupo ecológico formado por organismos de diversos táxons de invertebrados com tamanho intermediário entre a micro e a macrofauna, é uma ferramenta eficaz na avaliação de impactos ambientais em ambientes aquáticos devido a diversos fatores, muitos dos quais relacionados ao seu modo de vida bentônico. Com base nessa informação, esta dissertação foi desenvolvida em dois capítulos: o capítulo 1 traz uma revisão cientométrica sobre a aplicação da meiofauna como indicadora ambiental em casos de poluição por esgoto e o capítulo 2 é uma aplicação da meiofauna como indicadora da condição de praias arenosas que recebem despejo de esgoto clandestino. Para desenvolvimento do capítulo 1 foram consultadas as bases de periódicos Scopus e Web of Science, e para análise dos dados obtidos, utilizado o pacote do R bibliometrix e sua ferramenta de suporte gráfico biblioshiny. Como resultado, foram avaliados minuciosamente 63 artigos, publicados entre 1930 e 2021. A maior parte destes artigos foi desenvolvida em praias arenosas que recebiam esgoto doméstico, e Nematoda foi o grupo dominante nestas pesquisas. Foi demonstrado que há poucos artigos publicados na área e que os maiores grupos de pesquisadores são restritos geograficamente, com uma rede de colaboração pobre. O capítulo 2, por sua vez, foi desenvolvido em praias dissipativas e refletivas da cidade de Maceió, Alagoas, em que há “línguas sujas”, despejo de efluentes pluviais poluídos por esgoto clandestino. O estudo pretendia avaliar os efeitos da morfodinâmica das praias sobre a meiofauna em contato direto com as línguas sujas, combinada também ao efeito da distância espacial do efluente e da verticalidade das comunidades nos sedimentos. Para isso, foram realizadas coletas de amostras biológicas em duas línguas sujas de cada tipo de praia em período seco no ano de 2021, bem como foram coletadas amostras de material e de dados, como sedimentos e salinidade, para análises de correlação. Como resultados, foram encontrados 17 grupos taxonômicos, sendo o mais abundante em todas as praias, Nematoda. A influência dos tipos de praias foi significativa sobre a estrutura da meiofauna, inclusive com relação às distâncias da língua suja e aos estratos. Os fatores que mais influenciaram na dissimilaridade dos grupos foram o número de coliformes totais e E. coli, a assimetria e grau de selecionamento dos grãos, e a salinidade. A praia refletiva foi aquela que demonstrou reponder mais negativamente aos impactos promovidos pelo esgoto, inclusive no que diz respeito à diminuição da densidade da meiofauna nas cmadas superiores do sedimento. Restou comprovado que as praias analisadas sofrem impacto da poluição por esgoto.

A Mata Atlântica ao norte do Rio São Francisco, conhecida como Centro Pernambuco de Endemismo, é a área mais crítica do bioma principalmente pela devastação causada pela cana-de-açúcar. No processo de produção de álcool e açúcar, umas das etapas é a queimada para a colheita da cana-de-açúcar, durante a qual são eliminados inúmeros predadores naturais necessitando de grande utilização de agrotóxicos, como herbicidas, além de outros fertilizantes minerais. Presentes nesses compostos estão os metais não essenciais com grande potencial de poluição ambiental causando grandes impactos nos ecossistemas. Dentre organismos que podem sofrer com essa contaminação estão as aves, as quais apresentam hábitos alimentares específicos, capacidade de realizar grandes deslocamentos e grande sensibilidade e baixos níveis de enzimas detoxificantes. O estudo foi realizado em três fragmentos de Mata Atlântica protegidos do Centro Pernambuco de Endemismo (CEP) em Alagoas. Para análise foram coletadas10 penas do peito de aves florestais de sub-bosque. Nosso estudo encontrou apenas a presença de alumínio nas amostras. Em datas de períodos secos, aves da espécie Schiffornis turdina da ESEC-Murici apresentaram concentração de alumínio muito superior às aves da mesma espécie da Mata do Cedro. Além disso, as concentrações de alumínio foram muito mais altas em setembro na avifauna da RPPN Mata do Matão. Os resultados mostraram necessidade de atenção das áreas de estudo que evidenciaram níveis de contaminação por alumínio, se revelando uma ameaça para a fauna e flora do local, necessitando de atenção em relação ao grande uso de fertilizantes minerais.

Os elasmobrânquios, popularmente conhecidos como arraias e tubarões, estão entre os vertebrados mais antigos ainda vivos, a aproximadamente 400 milhões de anos. Eles possuem papeis cruciais para o ecossistema marinho saudável e funcional, o controle das populações de suas presas. Porém, os elasmobrânquios são um dos principais grupos mais ameaçados de extinção, devido a sobrepesca, poluição dos oceanos e perda de habitat. Nesse contexto, a presente tese visa entender as tendencias das pesquisas científicas sobre esse grupo de animais e identificar métodos que facilitem avaliações de risco de extinção de forma rápida e segura. Para isso, no primeiro capitulo desbravamos o cenário das pesquisas cientificas sobre os elasmobrânquios marinhos, buscado entender quais fatores podem impulsionar mais pesquisas e quais temas são de maior urgência. Observamos que a produção cientifica sobre elasmobrânquios marinhos é crescente de modo exponencial, e que essa produção está mais concentrada em países mais desenvolvidos economicamente, e de alta produção pesqueira. Em relação aos temas abordados, houve uma clara mudança ao longo do tempo, sendo mais comum até os anos 2000 temas como morfologias e anatomia, e mais atualmente temas tais como história de vida, conservação, ecologia. Essa mudança foi de extrema importância, pois destaca a necessidade de entendermos melhor esses animais e buscarmos medidas mais eficaz de conservação. No segundo capítulo, testamos uma metodologia já conhecida (analise demográfica) para avaliar o status populacional local da arraia Hypanus guttatus, comumente capturada no Nordeste do Brasil pela pesca de arrasto. Para essa avaliação usamos apenas dados já publicados sobre história de vida e pesca na região. Detectamos que a espécie tem crescimento populacional negativo (-11,83%) na região, ocasionado principalmente pela captura de indivíduos jovens. Portanto, os principais indivíduos que precisam de atenção para continuação da espécie no Nordeste do Brasil seriam os jovens e neonatos. E no último capítulo, analisamos de forma global e a nível de comunidade os elasmobrânquios marinhos, buscado identificar quais atributos bioecologicos podem ser preditivos de risco de extinção. Observamos que as espécies que apresentam viviparidade e que estão em ambientes mais próximos a costa e habitam águas mais rasas tendem a ter maior riscos de extinção. E que áreas com maior quantidade de captura de tubarões e arrais também são aonde ocorre a maior quantidade de espécies ameaças. Logo requer maior fiscalização nessas áreas, pra evitar que espécies ameaçadas sejam capturas.

Regiões secas (drylands) são áreas com índices de aridez ≤0,65. Nesse tipo de ambiente as chuvas são escassas e ocorrem em pulsos (eventos raros de super-disponibilidade de recursos). Durante a seca, a demanda nutricional e metabólica é diminuída. Desta maneira, quanto maior o tempo de seca, maior o reservatório nutricional acumulado no ambiente. O tamanho do reservatório influencia a intensidade da resposta ao pulso de água. Ou seja, existe uma ‘memória’ ambiental do evento de chuva anterior. Outro exemplar de ecossistema com frequente déficit de água é a filosfera (parte aérea das plantas). Esse ambiente intermedia a relação da planta com ambiente e é uma fonte megadiversa de microrganismos. A filosfera de bromélias, plantas tipicamente neotropicais, abrigam diversos grupos microbianos, incluindo leveduras. Entretanto, o conhecimento sobre leveduras em bromélias é disperso e ainda incipiente. Neste estudo nossos objetivos foram: 1) Compilar, sintetizar e compreender a extensão do conhecimento sobre leveduras da filosfera de bromélias em escala global. 2) Verificar o efeito da chuva e da memória ambiental sobre a diversidade e estrutura taxonômica, filogenética e funcional das leveduras da filosfera de bromélias na Caatinga. 3) Caracterizar a possível nova espécie Carlosrosaea caatingensis sp. nov.. Para tanto, a literatura sobre leveduras em bromélias foi sistematicamente revisada. Ademais, leveduras foram isoladas regularmente durante dois anos a partir de bromélias na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Tocaia, no município de Santana do Ipanema, Sertão alagoano. Na produção acadêmica das últimas três décadas foram encontrados registros de mais de 180 espécies de leveduras na filosfera de bromélias, distribuídos em quatro compartimentos: flores, frutos, folhas e tanques. Cerca de 70% das espécies ocorreram exclusivamente em um único compartimento e apenas 2% foram comuns a todos. Mais de 20 novas espécies de leveduras foram descritas em bromélias nesse período e ao menos 50 espécies mostraram algum potencial biotecnológico. Quanto ao efeito das chuvas, a diversidade-alfa não diferiu significativamente entre períodos sazonais. Entretanto, a composição taxonômica divergiu em mais de 70%, embora tenha se mostrado funcionalmente estável. A chuva, seca e a memória ambiental tiveram pouca influência nas métricas de diversidade. No entanto, mostraram relação com a estrutura da comunidade. A análise das regiões ITS e D1/D2 do gene 26S rRNA de isolados da Caatinga indicou uma possível nova espécie com afinidade ao gênero Carlosrosaea. Diante disso, caracterizamos e propomos a espécie C. caatingensis sp. nov.. Nossos resultados trazem informações sobre a diversidade e dinâmica das leveduras da filosfera de bromélias e como ela se relaciona com os pulsos de chuva, seca, sazonalidade e efeito de memória. Compreendendo o efeito da chuva e da seca na microbiota da filosfera, principalmente em regiões secas, podemos estimar como a comunidade microbiana das folhas será afetada pelas mudanças climáticas que alteram os ciclos seco-úmido e, consequentemente, como isso se relaciona com o hospedeiro.

Mudanças globais afetam os ecossistemas marinhos afetando corais e
sua microbiota. A zona costeira brasileira possui ~8000 km de extensão que
abrigam diversos ecossistemas, e vem sendo considerada a Amazônia
azul. Fungos  fazem parte dos microrganismos que compõem a microbiota dos
corais e esponjas, representando  1% (~1900) das espécies descritas deste
grupo. Fungos  marinhos produzem diversos produtos naturais
(PNs), através de rotas biossintéticas únicas, apresentando potenciais
atividades biológicas e participando da defesa do hospedeiro. Os PNs de
fungos marinhos têm se destacado na descoberta de novos anti-microbianos
contra patógenos emergentes. Neste trabalho objetivou-se bioprospectar e
carcaterizar metabólitos secundários com atividades biológicas de fungos
filamentosos oriundos de esponjas e corais na Amazônia azul. Meios de cultura
tradicionais, e técnicas baseadas na ativação de rotas biossintéticas foram
usadas para promover a síntese de metabólitos secundários
(MSs) de fungos, pertencentes a micoteca do laboratório de diversidade e
biotecnologia microbiana (LDBM) - UFAL. Técnicas de análises químicas foram
abordadas para realizar a anotação dos MSs sintetizados,  e avaliação do seu
 potencial biotecnológico no controle de patógenos emergentes humanos. Sete
espécies foram selecionadas da micoteca do LDBM-UFAL, Aspergillus
ruber FMPV 02; Epicoccum chloridis FMPV 05; Aspergillus sydowii FMPV
10; Aspergillus flavus FMPV 11; Curvularia sp. FMPV 12; Penicillium
pedernalense FMS 066; Pyrenochaetopsis sp. FMS 104. Foram avaliados
extratos obtidos a partir do micélio e sobrenadante do cultivo. Duas
linhagens, E. chloridis FMPV 05; A. sydowii FMPV 10 exibiram atividade
antimicrobiana contra Candida albicans, Cryptococcus
neoformans e a bactérias Staphylococcus aureus. Os extratos e frações dos
dois fungos continham diversos compostos, dos quais se destacaram as
dicetopiperazinas  cyclo Leu-Pro (12.62 %) e seu isômero (21.15%), cyclo Phe-
Val (6.22%) e cyclo Pro-Phe (4.50%), como os possíveis responsáveis pelas
atividade anti-microbiana e pelo controle dos fatores de
virulência dos patógenos. A partir da estratégia uma linhagem muitos
compostos (OSMAC), o fungo  A. sydowii FMPV 10 demonstrou atividade anti-
microbiana contra C. albicans e C. neoformans. Foi observada 95% de
diferença nos compostos sintetizados nos diferentes meios
utilizados,  demonstrando que diferentes estratégias de cultivo potencializam a
produção de MSs com perfis químicos e biológicos diferentes. Fungos
filamentosos marinhos da Amazônia azul são uma fonte promissora na
obtenção de produtos naturais com potenciais biotecnológicos. As
linhagens E. chloridis FMPV 05 e A. sydowii FMPV 10 produziram moléculas
com atividade anti-microbiana, contra bactérias e fungos patogénicos à saúde
humana. No entanto, para entender o papel destes microrganismos nos
ecossistemas marinhos é necessário outros estudos que contemplem
estratégias e técnicas vizando ligar a químiodiversidade e
os papeis funcionais no ambiente marinho.

O litoral da região Nordeste do Brasil é marcado pela pesca artesanal, atividade que desempenha um papel cultural e econômico em escala nacional e local. Em agosto de 2019 as comunidades pesqueiras artesanais foram surpreendidas pelo mais extenso derramamento de óleo em regiões tropicais e, poucos meses depois, também tiveram que lidar com as restrições econômicas da pandemia do COVID-19. Esses impactos subsequentes exigiram que eles desenvolvessem estratégias de enfrentamento para superar a falta de renda, uma vez que a pesca não era permitida e/ou produtiva. Realizamos entrevistas semiestruturadas online e presenciais em três estados do Nordeste para entender como as comunidades pesqueiras costeiras lidaram com o derramamento de óleo e a pandemia e quais características impulsionaram a capacidade de enfrentamento.

A plataforma continental da América do Sul foi exposta de diversas formas a mudanças eustáticas e isostáticas durante o Quaternário, modificando a sua fisiografia, formando paleodrenagens que culminaram na conectividade entre rios e/ou isolamento no passado, consequentemente afetando a distribuição dos organismos aquáticos. Para avaliar esses efeitos históricos do Pleistoceno, espécies de ampla distribuição que habitam ambientes marinhos e estuarinos, são excelentes preditoras, principalmente quando se avalia os seus níveis de diversidade genética. No presente trabalho, analisamos a diversidade genética e filogenética de L. grossidens, uma espécie plástica de ampla distribuição na América do Sul. Para isso, utilizamos dois genes, um mitocondrial (COI) e um nuclear (Rodopsina). Nossas análises foram congruentes, detectando a presença de três linhagens que se diversificaram durante as eras glaciais e interglaciais do Pleistoceno. Sendo uma distribuída do extremo sul que divergiu cerca de 400 mil anos; uma linhagem costeira de ampla distribuição do norte ao sudeste do Brasil; e outra linhagem que divergiu mais recentemente a 77 mil anos, mais restrita com ocorrência na região do baixo rio São Francisco no nordeste do Brasil (RSF), mas que se encontra em simpatria com a população costeira de ampla distribuição. Todos esses processos destacam as rotas evolutivas que L. grossidens experimentou durante a sua diversificação, propiciados por processos geomorfológicos e térmicos durante o Pleistoceno, culminando em assinaturas genéticas profundas com linhagens enigmáticas ao longo da sua distribuição.

O derramamento de óleo cru ocorrido em 2019 na Costa do Brasil afetou diversas Áreas Marinhas Protegidas, dentre elas, a Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais (APACC), em Alagoas. Um dos componentes do óleo são os Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPA’s), os quais podem causar diversos efeitos deletérios em organismos aquáticos, como desbalanço redox e neurotoxicidade. Estudos de Biomonitoramento com o uso de biomarcadores são uma importante ferramenta para esclarecer os diferentes contaminantes e seus efeitos sobre a biota e, ainda, subsidiar políticas de conservação ambiental. Desta forma, este estudo objetivou avaliar os potenciais efeitos ecotoxicológicos no bivalve Tivela mactroides (maçunim) de áreas atingidas pelo óleo. Foram realizadas coletas nos períodos intermediário (setembro/2020), de estiagem (dezembro/2020) e chuvoso (abril/2021) em três localidades da APACC, que representavam um gradiente decrescente do volume de óleo removido: 1) Maragogi; 2) Japaratinga e 3) Paripueira. Foi realizada a quantificação dos HPA’s presentes no corpo mole dos bivalves, a avaliação de biomarcadores de balanço redox e neurotoxicidade nas brânquias e glândula digestiva, bem como o cálculo do Índice Integrado de Biomarcadores (IBR). Dos 16 HPA’s investigados foram detectados 13 tipos, sendo o Pireno, Benzo (a) antraceno, Criseno, Benzo (b) fluoranteno, Benzo (k) fluoranteno, Benzo (a) pireno e Ideno (1,2,3-cd) responsáveis por ~43% da concentração de HPA’s totais. Foi constatada uma resposta antioxidante em todas as localidades para ambos os órgãos investigados, porém essas não foram suficientes para evitar danos oxidativos na glândula digestiva dos bivalves de Maragogi no período estiagem e de Paripueira no período chuvoso. Os maiores valores de IBR foram observados para Japaratinga e Maragogi, entretanto não houve correlação com os níveis de HPAs destes locais. Em geral, T. mactroides se mostrou sensível às variações ambientais, entretanto apresentou respostas antioxidantes que o tornam resiliente a diferentes estressores ambientais. Em conjunto, estes dados denotam a importância da inclusão de estudos ecotoxicológicos na APACC para o acompanhamento dos efeitos a longo prazo após o episódio do derramamento de óleo, bem como de outros poluentes oriundos da atividade antrópica.

Os manguezais são ecossistemas costeiros de transição, situados entre os biomas terrestres e marinhos, em regiões tropicais e subtropicais. Abrangem aproximadamente 25.000 km2 do território brasileiro, o equivalente a 12% dos manguezais existentes no mundo. Suas principais características são substrato lamoso, variações diárias dos fatores do ambiente, como regime de marés e temperatura, e possuem espécies vegetais adaptadas às inundações de marés. Entre as espécies vegetais presentes nos manguezais estão Avicennia germinans, Avicennia schauerian, Laguncularia racemosa, Rhizophora harrisonii, Rhizophora mangle e Rhizophora racemosa. Essas espécies fixam-se ao substrato lamoso dos manguezais, criando zonas de elevadas atividades biológicas que abrigam grande diversidade de micro-organismos. Entre eles estão as leveduras que são micro- organismos unicelulares presentes em ambientes atmosféricos, aquáticos, terrestres e ecótonos como os manguezais. Neste ambiente, as leveduras estão sujeitas às variações dos fatores ambientais como a salinidade, temperatura e pH. Entretanto, apesar das flutuações diárias desses fatores, as leveduras desempenham alguns papéis essenciais nesse ecossistema como a ciclagem de nutrientes e são possíveis bioindicadores de qualidade ambiental. O conhecimento sobre a composição e a diversidade da comunidade de leveduras em manguezais ainda é incipiente, principalmente no nordeste do Brasil. Diante do exposto, nosso objetivo foi verificar a diversidade e composição da comunidade de leveduras associadas a sedimento rizosférico da espécie L. racemosa ao longo do manguezal da Barra de Santo Antônio, Alagoas. Para tanto, foram aferidos os parâmetros físico-quimicos e coletadas amostras de sedimento em três pontos no manguezal do rio Santo Antônio. As amostras foram diluídas e semeadas em Ágar YM modificado, seguidas de incubação a 25-28 oC por 5-7 dias. Para realizar a identificação molecular, a região D1/D2 LSU rDNA dos isolados foi amplificada e sequenciada. Os parâmetros físico-químicos do ambiente não presentaram variação estatísticamente significativa entre os pontos. Foi obtido um total de 132 isolados de leveduras, pertencentes a 32 espécies distribuídas em 18 gêneros. A maioria das espécies teve ocorrência única nas amostras. Foi possível isolar uma possível espécie nova pertencente ao gênero Barnettozyma. Além disso, verificamos que a comunidade de leveduras dos pontos amostrados é composicionalmente estável, mas as diversidades taxonômicas e filogenéticas entre os pontos amostrados tiveram diferenças significativas, aumentado à medida que os locais de amostragens estavam mais distantes do mar. Estes resultados indicam que, apesar das flutuações diárias dos fatores do ambiente, há uma estabilidade na composição da comunidade de leveduras que vivem em associação com a espécie L. racemosa. A curva de extrapolação não atingiu a assíntota, indicando que ainda existem espécies de leveduras em associação com a espécie L. racemosa que não conseguimos amostrar. Através da análise dos dados obtidos, concluiu-se que os parâmetros físico-químicos aferidos não influenciaram a diversidade de leveduras amostradas. A diversidade taxonômica de leveduras na mesma espécie vegetal pode variar ao longo do manguezal, provavelmente devido ao regime de marés haverá um ciclo de entrada e saída de espécies. Portanto, novas coletas devem ser feitas para melhor elucidar a dinâmica das espécies de leveduras presentes em manguezal.

A pesca artesanal é a principal atividade econômica e cultural desenvolvida para subsistência na costa brasileira. Essa atividade é capaz de gerar benefícios, que contribuem para o bem-estar das populações locais, como segurança alimentar, geração de renda, aprendizagem social, diminuição da vulnerabilidade social, entre outros. Entretanto, o acesso aos benefícios depende do contexto de governança local e da disponibilidade de recursos. No caso de áreas marinhas protegidas, cujos objetivos incluem a conservação da biodiversidade e suporte às comunidades locais, espera-se que haja uma maior contribuição das atividades desenvolvidas nessas áreas para o bem-estar humano das populações locais, como é o caso da pesca artesanal. Este trabalho objetivou levantar as contribuições culturais, econômicas, de governança, de saúde e sociais, da pesca artesanal para o bem-estar de pescadores e pescadoras artesanais; e como as percepções variam entre áreas marinhas protegidas e fora de unidade de conservação (UC). Realizamos um total de 230 entrevistas estruturadas com pescadores e pescadoras artesanais de sete comunidades pesqueiras, localizadas entre a Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais, a Reserva Extrativista Marinha da Lagoa de Jequiá e de uma área fora de UC, em Maceió, Alagoas (Brasil). No geral, nossos resultados demonstram uma maior variação na percepção dos pescadores e pescadoras a respeito da categoria de governança, seguida da categoria social e cultural. Encontramos diferenças significativas na percepção dos pescadores e pescadoras acerca de todas as categorias de benefícios considerando as diferentes localidades. Em contraste com outros trabalhos que discutem em grande parte apenas os benefícios econômicos da pesca, nossa pesquisa abrange outras categorias de benefícios, que constroem o universo da pesca artesanal. As contribuições teóricas deste estudo tem o potencial de fornecer subsídios para pensar e discutir estratégias e auxiliar em decisões políticas que fortaleçam a pesca artesanal e garanta a geração de benefícios para as comunidades pesqueiras e a conservação dos recursos pesqueiros.

Apesar do camarão de água-doce Macrobrachium acanthurus ser abundante e um importante recurso pesqueiro em toda sua área de ocorrência, suas populações vêm sofrendo constante redução seja pela pressão da pesca ou pela degradação ambiental.  Assim, a análise dos padrões comportamentais e das relações intraespecíficas deste crustáceo são importantes ferramentas para compreender sua a biologia e ecologia, subsídios para futuros planos para conservação dessa espécie. Em um ambiente controlado, durante um ciclo de 24 horas, foram identificados e descritos 32 comportamentos distintos divididos em Comportamentos gerais e Comportamentos agonísticos. M. acanthurusapresenta maior atividade no horário crepuscular/noturno, e os caracteres morfológicos dos animais, principalmente tamanho de quelípodes e coloração, são os principais elementos para a formação de hierarquia dentro do grupo, de modo que interações agressivas não são as únicas ferramentas utilizadas para a organização social. Os resultados mostraram ainda que as iluminações artificiais não interferiram no comportamento dos animais, pois os mesmos moveram-se livremente durante os experimentos, demonstrando que crustáceos correspondem bem a experimentos laboratoriais. 

A região Neotropical abriga cerca de 258 espécies de aves silvestres endêmicas e ameaçadas de extinção e a cada avaliação da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) a lista tem aumentado. A IUCN indica o conhecimento que é necessário para melhorar o estado de conservação das espécies. No entanto, a pesquisa científica na região tropical é limitada por diversos fatores. Dessa forma, buscamos avaliar a relação entre o conhecimento produzido e o conhecimento necessário à conservação destas espécies. Para isso extraímos as informações dos bancos de dados da BirdLife International e IUCN RedList. A produção científica entre 1870 e 2019, na forma de documentos publicados, foi identificada por meio da base de dados bibliométricos SCOPUS. Dados foram analisados usando planilhas dinâmicas no Excel^@ e o software R. Identificamos 657 tipos de documentos sem repetição. A produção científica até 1995 era menor que duas publicações por ano, aumentando nos anos subsequentes. Somente 31 espécies foram responsáveis por mais de 50% dos estudos indexados e, em contrapartida, 65 espécies não foram associadas a nenhum documento indexado. Usando as palavras-chave apontadas nos documentos, os temas estudados mais frequentemente foram: Evolução (n=82), Genética (n=80), Comportamento (n=78), Taxonomia (n=74), Conservação (n=64), Reprodução (n=64), Distribuição (n=57), Gestão (n=55), Morfologia (n=53) e População (n=48). Nas ações propostas pela IUCN são indicados como prioritários os estudos populacionais (16,42%), estudos para esclarecer a distribuição (14,34%), ações visando a proteção das áreas, monitoramento e fiscalização (13,11 %), expansão ou criação de novas Unidade de Conservação (10,66%), pesquisa sobre os requerimentos ecológicos (9,06%) e educação ambiental (4,62%). As ameaças mais citadas pela IUCN foram perda e degradação de habitat (54,34%), caça (7,99%), comércio ilegal (5,02%), espécies exóticas invasoras (5,02%), mudança climática (4,57%), distúrbios provocados pelo gado (4,57%), impactos do uso de pesticidas (4,11%) e o impacto dos parasitas (3,20%). Concluímos que a relação entre o conhecimento produzido e o conhecimento indicado pela IUCN estão coerentes em alguns tópicos, mas ainda focado em poucas espécies. A maioria carece de conhecimentos básicos sobre sua ecologia e situação atual das populações. Portanto, torna-se urgente direcionar recursos e atenção científica para temas de estudo que subsidiem um processo mais eficiente de conservação.

As mudanças climáticas representam um dos maiores desafios atuais para nossa civilização. Desde a década
de 1950, mudanças ambientais notáveis foram observadas na Amazônia, incluindo o aumento da
temperatura média anual e mudanças na dinâmica dos rios, particularmente um aumento na incidência de
grandes enchentes e grandes secas. Essas mudanças podem levar a impactos substanciais nos sistemas
socioecológicos e nos meios de subsistência locais, afetando direta e indiretamente vários elementos dos
sistemas biológicos e diferentes atividades essenciais para os meios de subsistência locais, incluindo pesca,
agricultura, extrativismo, caça e carpintaria. Uma maneira promissora de compreender os efeitos das
mudanças climáticas, e particularmente o aumento de eventos climáticos extremos, sobre os meios de
subsistência locais é por meio do Conhecimento Ecológico Local (LEK – Local Ecological Knowledge). O
LEK compreende o conhecimento, a prática e as crenças dos povos indígenas e comunidades locais
desenvolvidos por meio de sua interação de longo prazo com o meio ambiente, e seu potencial para
identificar e compreender os impactos das mudanças climáticas tem sido cada vez mais reconhecido. Aqui,
investigamos os efeitos percebidos das mudanças climáticas sobre o uso de recursos naturais de
comunidades ribeirinhas no oeste da Amazônia. Realizamos entrevistas semiestruturadas com residentes
locais de 24 comunidades rurais espalhadas por um trecho de aproximadamente 600 km do rio Juruá, um
importante afluente de águas brancas do rio Amazonas. Mostramos que os moradores das comunidades
rurais do Juruá percebem um vasto conjunto de efeitos das mudanças climáticas observadas em diferentes
sistemas, incluindo climáticos, físicos, humanos e biológicos. Os residentes locais associam muitas das
mudanças relacionadas ao clima percebidas aos impactos em suas atividades de subsistência, listando as
atividades de quintais / sistemas agroflorestais, plantio de Mandioca e extrativismo de Andiroba como as
mais impactadas pelas mudanças climáticas. Além disso, embora alguns desses impactos sejam positivos, a
maioria deles são negativos, chamando a atenção para a vulnerabilidade dessas comunidades às mudanças
climáticas em curso e futuras, uma vez que seus meios de subsistência são essencialmente baseados na
gestão de recursos naturais. Esses impactos devem ser tratados e mitigados por meio de políticas públicas
com foco na diversificação econômica e no treinamento para aumentar a capacidade de adaptação local e a
resiliência.

A herbivoria é um processo essencial para a saúde e resiliência dos recifes, onde produtores primários tem seu crescimento limitado pelo intenso pastoreio de diversos herbívoros. Neste contexto, o conhecimento da herbivoria está restrito aos estudos com peixes e ouriços, havendo uma lacuna na compreensão do papel de megaherbívoros, como a tartaruga-verde, neste processo. A tartaruga-verde é a única espécie de tartaruga marinha que ao longo de sua ontogenia adota uma dieta majoritariamente herbívora. Neste estudo, foi investigado o papel ecológico da tartaruga-verde em ambientes recifais na APA Costa dos Corais, avaliando a ecologia alimentar de juvenis recém recrutados e subadultos. Essa avaliação compreendeu análise da dieta (n = 36), preferência alimentar e, comprimento e sobreposição de nicho dos grupos de tartarugas-verde. Utilizamos a análise de isótopos estáveis de ¹³C e ¹⁵N para ampliar a compreensão das interações tróficas inter e intraespecífica da tartaruga-verde com os demais herbívoros recifais, como também, a assimilação de energia através dos recursos alimentares selecionados. Os resultados mostraram que as algas vermelhas tiveram a maior contribuição relativa na dieta em ambos os grupos, juvenis e subadultos, com destaque para a família Gelidiales que foi a mais preferida. A sobreposição dos nichos foi alta, mas as tartarugas subadultas apresentaram maior amplitude de nicho, com expressivas contribuições de algas verdes e pardas. A preferência por algas vermelhas indica uma maior pressão de forrageio sobre esse grupo, além de sugerir que a APA Costa dos Coraisen el norte de Brasil, situada no nordeste brasileiro, é uma importante área de alimentação para tartarugas verdes juvenis. Estes resultados, quando somados aos de isótopos estáveis, auxiliará na compreensão de como as tartarugas- verdes utilizam os recursos disponíveis, e de como contribuem para o processo de herbívoria nos recifes.

Myracrodruon urundeuva Allemão (aroeira-do-sertão) é uma espécie arbórea nativa da floresta tropical sazonalmente seca importante em projetos de recuperação de áreas degradadas e uma espécie chave para a manutenção da biodiversidade deste bioma. Contudo, M. urundeuva encontra-se na lista vermelha das espécies da Flora do Brasil ameaçadas de extinção, sendo classificada como alta prioridade para a conservação. Em regiões semiáridas o regime hídrico é apontado como a variável com maior influência sobre a distribuição das espécies vegetais. Porém, alguns estudos constataram que o tipo de solo pode afetar a tolerância de plantas diante do estresse hídrico. Como M. urundeuva ocorre em diferentes tipos de solo, as diferentes propriedades físico-químicas destes solos podem exercer influência, em algum grau, sobre suas alterações fisiológicas desencadeadas pelo déficit hídrico, como já verificado em outras espécies de plantas. Frente ao risco de alteração da distribuição de M. urundeuva em consequência das mudanças climáticas, estudos que investiguem a influência de outros fatores como o solo, associados ao déficit hídrico sobre a fisiologia de M. urundeuva são de extrema relevância. Assim, o presente estudo teve como objetivo identificar e descrever a influência de dois tipos de solo (solo franco argilo arenoso e arenoso) nas alterações fisiológicas desencadeadas pelo déficit hídrico em M. urundeuva e sua posterior recuperação. O experimento foi realizado em casa de vegetação em delineamento inteiramente casualizado e em esquema fatorial 2x2. Foram analisados, através de uma análise de variância, os efeitos de dois tipos de solo: franco-argiloso arenoso e arenoso, e dois regimes hídricos: irrigado e déficit hídrico (imposto pela suspensão da irrigação até que as taxas fotossintéticas estivessem próximas de zero, com posterior reidratação até a recuperação) sobre as trocas gasosas, a eficiência quântica máxima e efetiva do PSII (F_v/F_m e ΦPSII), o status hídrico (Ψw_leaf), o conteúdo relativo de clorofila e a concentração de compostos orgânicos (proteínas, aminoácidos, prolina e açúcares). O tipo de solo influenciou nas mudanças fisiológicas desencadeadas pelo déficit hídrico sobre a eficiência instantânea do uso da água, potencial hídrico foliar durante a antemanhã e sobre o teor de aminoácidos. Em solo arenoso, M. urundeuva levou mais tempo para atingir taxas fotossintéticas próximas a zero e precisou de menos tempo para a recuperação. As plantas em solo franco argilo arenoso, por sua vez, foram capazes de aumentar a eficiência do uso da água (EUA) sob déficit hídrico moderado (situação comum na floresta tropical sazonalmente seca) e tiveram melhor status hídrico sob estresse hídrico severo. As plantas em solo franco argilo arenoso ainda foram capazes de aumentar o teor foliar de aminoácidos sob estresse hídrico. Apesar do estresse hídrico severo, nenhuma das plantas reduziu a F_v/F_m. No entanto, as plantas em solo franco argilo arenoso tiveram menor F_v/F_m (ao meio-dia) e ΦPSII. Por outro lado, essas plantas foram capazes de aumentar a F_v/F_m (ao meio-dia), ΦPSII e a EUA após a reidratação. Em conclusão, M. urundeuva cultivada em solo arenoso tolera o déficit hídrico por mais tempo e necessita de menos tempo para recuperação, mostrando capacidade de manter a eficiência quântica efetiva PSII mesmo sob estresse hídrico severo. Porém, as plantas em solo franco argilo arenoso tiveram melhor controle estomático, refletindo no aumento da EUA, garantindo assim melhor conservação da água durante o estresse hídrico severo, bem como a capacidade de aumentar a eficiência quântica do PSII e EUA durante a recuperação.

The Genome Size (GS) is known to vary widely among eukaryotes. However, the evolutionary drivers that shape this variation are largely unknown. Information about GS has been made available for several taxa of Actinopterygii, as is the case with representatives of the Pomacentridae family, which has diversified mainly in reef environments. In the present work, we evaluated by means of comparative phylogenetic methods which ecological traits shape the variation of the genome of these species. Our phylogenetic analyses, in a temporal context, show that the GS expanded and retracted several times quickly and independently of its kinship relations. However, we found a strong relationship between GS with temperature and salinity range, that is, larger genomes tend to have a greater niche range. In addition, when analysing the two highly supported clades called I and II, we see distinct evolutionary trajectories, mainly involving clade I which showed a strong association with trophic level, medium latitude and depth. Our data reveal the adaptive power of the genome size to shape the life history of Pomacentridae species regardless of their phylogenetic relationships.

Em muitas regiões do mundo, as plantas medicinais continuam sendo importantes agentes no cuidado da saúde humana. O papel da cultura local na transmissão e preservação do conhecimento sobre as plantas abarca um conjunto de crenças, práticas e tradições que são o objeto de estudo da etnobotânica. Dentre as possíveis abordagens de investigação, nos dedicamos a identificar os padrões globais no uso de plantas medicinais e a influência taxonômica percebida no uso de plantas medicinais nos mercados locais de diferentes países, pois reúnem diversos vendedores especializados. Este estudo objetivou identificar as famílias sobre e sub-representadas em mercados a partir de uma revisão sistemática de alcance global. Foram utilizadas estratégias de busca de acordo com o protocolo PRISMA, incluindo resultados dos buscadores Google Scholar, Scopus e Web of Science. Os artigos passaram por critérios de seleção, e foram submetidos a uma avaliação de risco de viés metodológico, que inspeciona a representatividade da amostra, proporção de espécies coletadas e identificadas e o enviesamento pela presença de recortes no objeto de estudo. Os artigos classificados com alto risco de viés foram excluídos da análise. Foi utilizado o modelo Imprecise Dirichlet Model (IDM), para identificar as famílias sobre-representadas e as sub-representadas. Das famílias, 36 famílias foram consideradas sobre-representadas, dentre as quais as principais foram Fabaceae, Lamiaceae, Malvaceae, Rutaceae, Solanaceae e Zingiberaceae. 15 famílias foram consideradas sub-representadas, entre as quais: Orchidaceae, Bromeliaceae, Cyperaceae, Poaceae e Asteraceae. Estudos realizados com a finalidade de relacionar a influência taxonômica com a atribuição local de vocação terapêutica das plantas por praticantes de fitoterapia podem trazer pistas importantes para a bioprospecção de compostos químicos bioativos. Nosso estudo, corroborou com a recorrência de um conjunto de famílias já apontadas como promissoras para a bioprospecção, no entanto apresentou também algumas famílias que ainda não tinham sido destacadas.

A pesca de camarão tem importância socioeconômica e cultural, principalmente nos países em desenvolvimento. Para viabilizar a explotação sustentável dos recursos, manter o bem-estar social e respeitar cultura e tradição na atividade é necessário que esta pesca tenha uma gestão compatível com seu perfil, o qual na região é artesanal em média e pequena escala. Para embasar o conhecimento e viabilizar politicamente a gestão, o conhecimento ecológico local (CEL) dos pescadores é um instrumento relevante, mas pouco utilizado. O presente estudo tem o objetivo de investigar quais os perfis de pescadores que melhor se conectam com o CEL, e se estes pescadores formam grupos com temas do CEL. Além disto, foi testada a hipótese de que o CEL sobre as espécies de camarão mais explotadas impacta diretamente na produtividade de pesca. Para avaliar o CEL, foram realizadas entrevistas por amostragem acidental com pescadores de arrasto, utilizando como instrumento, formulários semiestruturados em três regiões do nordeste brasileiro. Foi utilizado o programa Gephi para avaliar a conectividade dos pescadores com os aspectos do CEL. Já para testar a relação que o CEL tem no rendimento pesqueiro foram usados modelos lineares generalizados (GLMs). Os resultados mostram que existem grupos de pescadores que se conectam com alguns temas do CEL, sendo os aspectos biológicos das três principais espécies de camarão que mais foram declarados como conhecidos pelos pescadores da frota camaroneira são relacionados aspectos reprodutivos, aliementação e migração. Os resultados do GLM indicam que reprodução é um CEL que contribui para a produtividade pesqueira. Conclui-se que para melhorar o processo de tomada de decisão e gestão da pesca de camarão deve-se incorporar diferentes tipos de conhecimentos. Aprimorar canais de comunicação que leve em consideração o CEL e a produtividade pesqueira podem auxiliar no uso sustentável destes recursos e manter o bem-estar da população de pescadores, atingindo os objetivos das partes interessadas.

Muitas pessoas dependem das plantas medicinais, pois elas utilizam como estratégia de cuidado da saúde, na cura de doenças, especialmente em países em desenvolvimento. Essas plantas vêm sofrendo diversas pressões ou desafios em sua conservação, mas não necessariamente devido ao uso medicinal, de modo que podem ser usadas para outros fins. Mas, quando as suas populações diminuem por conta destes usos, pode haver comprometimentos no próprio emprego medicinal. No entanto, muitos trabalhos estudam a conservação das plantas medicinais sem levar em consideração outros usos. Este estudo se propôs entender quais usos causam maior impacto nas populações vegetais, utilizando a percepção local como proxy para o declínio. Foram registados os usos medicinais e usos adicionais das plantas nativas e lenhosas por meio de entrevistas semiestruturadas e oficinas participativas, respectivamente. As oficinas também permitiram ordenar as plantas segundo o grau de declínio percebido pelos participantes. uma matriz de correlação de Spearman foi adotada para apontar as correlações das categorias de uso entre si e com a percepção de declínio. Os resultados mostraram que as categorias combustível e construção estão relacionadas entre si e estão ligadas ao maior declínio de espécies. Não houve associação entre valor de uso medicinal e percepção de declínio. A versatilidade, medida pelo número de alvos terapêuticos, também não se correlacionou com o declínio percebido. Apesar de usos em combo apresentarem maiores impactos na vegetação, o uso medicinal isolado não apresentou conexão com a percepção de declínio, o que mostra que usos medicinais isolados não são um problema maior para a vegetação. Portanto, as estratégias de conservação de plantas medicinais não podem negligenciar seus usos associados, especialmente os usos madeireiros.