Diversidade de nicho acústico em anfíbios anuros de um remanescente no Norte da Mata Atlântica brasileira: caracterização e influências filogenéticas
Comunidade acústica; Particionamento do nicho acústico; Hylidae, espectral, espacial.
A comunicação acústica exerce um papel central na biologia reprodutiva de diversos animais, incluindo os anfíbios anuros. Ela funciona como a principal ferramenta de reconhecimento espécie específica entre machos e fêmeas reprodutivos. Em regiões tropicais múltiplas espécies de anuros coexistem no mesmo corpo d’água durante a estação reprodutiva, e a competição pelo espaço acústico pode levar ao particionamento do nicho acústico. No entanto, fatores como a proximidade filogenética e a estrutura da comunidade local podem restringir ou modular esse particionamento. Este estudo investigou o particionamento do nicho acústico em espécies da família Hylidae em duas localidades da Área de Proteção Ambiental Catolé e Fernão Velho, um fragmento de Mata Atlântica no estado de Alagoas. Duas dimensões do nicho acústico foram analisadas: espectral (frequências do canto) e espacial (altura dos sítios de vocalização). Ademais, a relação entre a proximidade filogenética e a similaridade do canto entre as espécies foi avaliada. No total 267 cantos de 30 indivíduos de anuros de nove espécies foram gravados entre abril/2024 e fevereiro/2025. A sobreposição de frequências foi avaliada por meio do índice de Pianka e comparada com uma sobreposição nula. A relação entre distância filogenética e dissimilaridade acústica foi testada por meio do teste de Mantel. Os resultados indicaram que a sobreposição espectral foi semelhante à esperada ao acaso em ambas as localidades, refutando a hipótese de segregação espectral. A sobreposição espacial, por sua vez, foi significativamente maior do que o esperado ao acaso apenas em umas das áreas, possivelmente refletindo uma maior riqueza da anurofauna no local e preferência por sítios de vocalização específicos. Não houve correlação significativa entre similaridade acústica e distância filogenética, sugerindo que os traços sonoros podem estar mais associados a pressões seletivas recentes do que ao conservadorismo de nicho. Os achados reforçam a complexidade do particionamento acústico em anuros e apontam para a necessidade de estudos que integrem as dimensões espectral, espacial e temporal, bem como uma maior diversidade filogenética, para melhor compreender os mecanismos que permitem a coexistência