Ecologia do Movimento e Conservação de Peixes-bois (Trichechus manatus) no Brasil: Área de Vida, Seleção de Habitat e Vulnerabilidade a Ameaças Antrópicas
Sirenia, Espécies ameaçadas de extinção, Estimativa de densidade do kernel autocorrelacionada, Funções de seleção de recursos, Impacto humano cumulativo, Consulta a especialistas, Revisão sistemática da literatura, Análise geoespacial, Ecossistemas aquáticos, Desenvolvimento costeiro, Brasil.
Os peixes-boi (Trichechus manatus) são megaherbívoros tropicais que habitam ecossistemas costeiros e fluviais dos EUA ao Brasil. Apesar de sua elevada plasticidade ambiental, as populações estão ameaçadas pela caça, pela degradação de habitat e por diversas pressões antrópicas emergentes. Uma compreensão integrada entre características ecológicas e da vulnerabilidade a essas ameaças é essencial para orientar estratégias de conservação. Este estudo visa (1) quantificar os requisitos de Área de Vida (AV) e os padrões de movimento dos peixes-boi, (2) avaliar a seleção de habitat, e (3) quantificar e mapear a vulnerabilidade da espécie ao potencial impacto cumulativo (VIC) de múltiplas ameaças, a fim de identificar informar medidas de conservação no Brasil. Foram utilizados dados de telemetria por GPS de 38 peixes-boi-do-Grande-Caribe para estimar a AV e calcular a velocidade média diária. Foi avaliada a seleção de habitat em 20 indivíduos marcados usando Funções de Seleção de Recursos (RSF) que incorporam autocorrelação. Os preditores ambientais incluíram pradarias de fanerógamas marinhas, recifes de coral, estuários e nascentes de água doce, além de um índice de impacto humano acumulado. Foi realizada também uma revisão sistemática da literatura e consulta de especialistas de forma a ranquear 16 ameaças antropogênicas e calcular o VIC, resultando em um mapa de vulnerabilidade ao impacto cumulativo utilizando um banco de dados geoespaciais. Dezoito indivíduos residentes apresentaram média de 72,96 km² na AV e velocidade de 13,47 km/dia. O tamanho da AV correlacionou-se positivamente com o tamanho corporal e foi maior em ambientes exclusivamente marinhos. As RSF mostraram seleção por estuários (1,52), nascentes (0,85) e pradarias de fanerógamas (0,77), com sobreposição consistente em áreas impactadas por humanos (1,12), enquanto recifes de coral foram evitados (–0,92). A degradação de habitat, exposição a poluentes e caça foram classificadas como as ameaças mais severas. O mapeamento revelou vulnerabilidade elevada próxima a centros urbanos, impulsionada pela diversidade de pressões do desenvolvimento costeiro. Nosso quadro integrado, que combina ecologia de movimento e avaliação de vulnerabilidade, ressalta o papel crítico de habitats estuarinos e de água doce e fornece uma base robusta para iniciativas de conservação orientadas a ameaças específicas.