CONDIÇÕES EDÁFICAS INFLUENCIAM A TOLERÂNCIA DE Myracrodruon urundeuva Allemão (ANACARDIACEAE) AO DÉFICIT HÍDRICO E SUA POSTERIOR RECUPERAÇÃO
Floresta tropical sazonalmente seca, mudanças climáticas, trocas gasosas.
Myracrodruon urundeuva Allemão (aroeira-do-sertão) é uma espécie arbórea nativa da floresta tropical sazonalmente seca importante em projetos de recuperação de áreas degradadas e uma espécie chave para a manutenção da biodiversidade deste bioma. Contudo, M. urundeuva encontra-se na lista vermelha das espécies da Flora do Brasil ameaçadas de extinção, sendo classificada como alta prioridade para a conservação. Em regiões semiáridas o regime hídrico é apontado como a variável com maior influência sobre a distribuição das espécies vegetais. Porém, alguns estudos constataram que o tipo de solo pode afetar a tolerância de plantas diante do estresse hídrico. Como M. urundeuva ocorre em diferentes tipos de solo, as diferentes propriedades físico-químicas destes solos podem exercer influência, em algum grau, sobre suas alterações fisiológicas desencadeadas pelo déficit hídrico, como já verificado em outras espécies de plantas. Frente ao risco de alteração da distribuição de M. urundeuva em consequência das mudanças climáticas, estudos que investiguem a influência de outros fatores como o solo, associados ao déficit hídrico sobre a fisiologia de M. urundeuva são de extrema relevância. Assim, o presente estudo teve como objetivo identificar e descrever a influência de dois tipos de solo (solo franco argilo arenoso e arenoso) nas alterações fisiológicas desencadeadas pelo déficit hídrico em M. urundeuva e sua posterior recuperação. O experimento foi realizado em casa de vegetação em delineamento inteiramente casualizado e em esquema fatorial 2x2. Foram analisados, através de uma análise de variância, os efeitos de dois tipos de solo: franco-argiloso arenoso e arenoso, e dois regimes hídricos: irrigado e déficit hídrico (imposto pela suspensão da irrigação até que as taxas fotossintéticas estivessem próximas de zero, com posterior reidratação até a recuperação) sobre as trocas gasosas, a eficiência quântica máxima e efetiva do PSII (Fv/Fm e ΦPSII), o status hídrico (Ψwleaf), o conteúdo relativo de clorofila e a concentração de compostos orgânicos (proteínas, aminoácidos, prolina e açúcares). O tipo de solo influenciou nas mudanças fisiológicas desencadeadas pelo déficit hídrico sobre a eficiência instantânea do uso da água, potencial hídrico foliar durante a antemanhã e sobre o teor de aminoácidos. Em solo arenoso, M. urundeuva levou mais tempo para atingir taxas fotossintéticas próximas a zero e precisou de menos tempo para a recuperação. As plantas em solo franco argilo arenoso, por sua vez, foram capazes de aumentar a eficiência do uso da água (EUA) sob déficit hídrico moderado (situação comum na floresta tropical sazonalmente seca) e tiveram melhor status hídrico sob estresse hídrico severo. As plantas em solo franco argilo arenoso ainda foram capazes de aumentar o teor foliar de aminoácidos sob estresse hídrico. Apesar do estresse hídrico severo, nenhuma das plantas reduziu a Fv/Fm. No entanto, as plantas em solo franco argilo arenoso tiveram menor Fv/Fm (ao meio-dia) e ΦPSII. Por outro lado, essas plantas foram capazes de aumentar a Fv/Fm (ao meio-dia), ΦPSII e a EUA após a reidratação. Em conclusão, M. urundeuva cultivada em solo arenoso tolera o déficit hídrico por mais tempo e necessita de menos tempo para recuperação, mostrando capacidade de manter a eficiência quântica efetiva PSII mesmo sob estresse hídrico severo. Porém, as plantas em solo franco argilo arenoso tiveram melhor controle estomático, refletindo no aumento da EUA, garantindo assim melhor conservação da água durante o estresse hídrico severo, bem como a capacidade de aumentar a eficiência quântica do PSII e EUA durante a recuperação.