Microbiologia da filosfera: Explorando a biodiversidade, ecologia e taxonomia no sistema leveduras-bromélias em escala global e no semiárido brasileiro
Semiárido, Regiões Secas, pulsos, filosfera, aridez
Regiões secas (drylands) são áreas com índices de aridez ≤0,65. Nesse tipo de ambiente as chuvas são escassas e ocorrem em pulsos (eventos raros de super-disponibilidade de recursos). Durante a seca, a demanda nutricional e metabólica é diminuída. Desta maneira, quanto maior o tempo de seca, maior o reservatório nutricional acumulado no ambiente. O tamanho do reservatório influencia a intensidade da resposta ao pulso de água. Ou seja, existe uma ‘memória’ ambiental do evento de chuva anterior. Outro exemplar de ecossistema com frequente déficit de água é a filosfera (parte aérea das plantas). Esse ambiente intermedia a relação da planta com ambiente e é uma fonte megadiversa de microrganismos. A filosfera de bromélias, plantas tipicamente neotropicais, abrigam diversos grupos microbianos, incluindo leveduras. Entretanto, o conhecimento sobre leveduras em bromélias é disperso e ainda incipiente. Neste estudo nossos objetivos foram: 1) Compilar, sintetizar e compreender a extensão do conhecimento sobre leveduras da filosfera de bromélias em escala global. 2) Verificar o efeito da chuva e da memória ambiental sobre a diversidade e estrutura taxonômica, filogenética e funcional das leveduras da filosfera de bromélias na Caatinga. 3) Caracterizar a possível nova espécie Carlosrosaea caatingensis sp. nov.. Para tanto, a literatura sobre leveduras em bromélias foi sistematicamente revisada. Ademais, leveduras foram isoladas regularmente durante dois anos a partir de bromélias na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Tocaia, no município de Santana do Ipanema, Sertão alagoano. Na produção acadêmica das últimas três décadas foram encontrados registros de mais de 180 espécies de leveduras na filosfera de bromélias, distribuídos em quatro compartimentos: flores, frutos, folhas e tanques. Cerca de 70% das espécies ocorreram exclusivamente em um único compartimento e apenas 2% foram comuns a todos. Mais de 20 novas espécies de leveduras foram descritas em bromélias nesse período e ao menos 50 espécies mostraram algum potencial biotecnológico. Quanto ao efeito das chuvas, a diversidade-alfa não diferiu significativamente entre períodos sazonais. Entretanto, a composição taxonômica divergiu em mais de 70%, embora tenha se mostrado funcionalmente estável. A chuva, seca e a memória ambiental tiveram pouca influência nas métricas de diversidade. No entanto, mostraram relação com a estrutura da comunidade. A análise das regiões ITS e D1/D2 do gene 26S rRNA de isolados da Caatinga indicou uma possível nova espécie com afinidade ao gênero Carlosrosaea. Diante disso, caracterizamos e propomos a espécie C. caatingensis sp. nov.. Nossos resultados trazem informações sobre a diversidade e dinâmica das leveduras da filosfera de bromélias e como ela se relaciona com os pulsos de chuva, seca, sazonalidade e efeito de memória. Compreendendo o efeito da chuva e da seca na microbiota da filosfera, principalmente em regiões secas, podemos estimar como a comunidade microbiana das folhas será afetada pelas mudanças climáticas que alteram os ciclos seco-úmido e, consequentemente, como isso se relaciona com o hospedeiro.