Plantas silvestres com alta importância alimentícia são protegidas de usos madeireiros por populações locais
Conservação pelo uso. Plantas alimentícias silvestres. Manejo tradicional. Usos madeireiros. Etnobiologia
O efeito da interação de usos tem sido pouco estudado, limitando a nossa compreensão sobre como a importância da planta para um fim pode protegê-la de outros usos mais destrutivos. Assim, testamos a hipótese da proteção, para a qual avaliamos se usos alimentícios protegem as plantas lenhosas de usos madeireiros quando estes são mais danosos). Testamos a hipótese a partir de duas perspectivas (efeito protetivo proporcional à importância alimentícia da espécie ou efeito protetivo apenas nas espécies-chave). Conduzimos o estudo em uma comunidade rural situada em vegetação de Restinga, no Nordeste do Brasil. A partir de uma oficina participativa, identificamos três espécies-chave (espécies alimentícias com alta importância para consumo e geração de renda) e seus respectivos locais de ocorrência/coleta. Identificamos outras espécies que ocorriam junto com as espécies-chave, com um inventário fitossociológico em três áreas. Utilizamos herbário de campo e a fotos dessas espécies como estímulos visuais durante o checklist-entrevista. Os entrevistados avaliaram as espécies de acordo com a qualidade da madeira, a disponibilidade percebida e o uso. Para testar a hipótese, realizamos modelos CLMM e GLMM. De um modo geral, não encontramos um efeito protetivo proporcional à importância alimentícia das espécies. Contudo, identificamos que há um forte efeito protetivo direcionado às espécies chave. A disponibilidade e a eficiência percebidas foram variáveis explicativas significativas para os usos madeireiros. Recomendamos estratégias de conservação biocultural que amplifiquem a importância alimentícia das plantas para garantir sua proteção, além de estratégias voltadas para as espécies exclusivamente madeireiras, que podem estar sofrendo maior pressão de uso.