Um guarda-chuva de espécies ameaçadas: estrutura das assembleias de aves seguidoras de formigas no Centro de Endemismo Pernambuco
Espécies ameaçadas, interações interespecificas, forrageamento, conservação
O Centro de Endemismo Pernambuco (CEP) destaca-se por abrigar mais de 30% das espécies de aves da Mata Atlântica, sendo crucial para a sua conservação. No entanto, restam poucos remanescentes florestais e muitas espécies estão ameaçadas de extinção. Algumas espécies de aves insetívoras desenvolveram o comportamento de seguir formigas de correição para forragear, aproveitando as presas que escapam das formigas. O colapso desse fenômeno tem sido associado com cascatas de extinção de aves insetívoras em florestas tropicais. Neste estudo é analisada pela primeira vez a estrutura das assembleias de aves seguidoras de formigas (ASF) de correição no CEP, investigando a diversidade taxonômica e testando a hipótese de que espécies especializadas (espécies-chave) desempenham um papel fundamental na riqueza e diversidade das agregações mistas de aves seguidoras de formigas. O estudo foi conduzido na Estação Ecológica de Murici (ESEC) e na Reserva Biológica de Pedra Talhada (REBIO), representando os maiores remanescentes do CEP. Foram realizadas busca ativa de correições e/ou colônias de formigas (Eciton spp.) ao longo de caminhos e trilhas da área de estudo. Foram registrados dados de tamanho da correição, horário, abertura de dossel, umidade e temperatura. Quando aves estavam presentes, foram registradas (riqueza e abundância) e identificadas. Foi realizada uma análise PERMANOVA para testar o efeito da abundância de Pyriglena pernambucensis e variáveis ambientais na estrutura das assembleias de ASF. Foram amostradas 39 correições, sendo que apenas 15 delas continham aves seguindo as formigas. Três espécies de formigas de correição foram registradas. Um total de 29 espécies de aves foi registrado seguindo as correições, com destaque para P. pernambucensis, uma espécie endêmica do CEP classificada como vulnerável pelo MMA. Essa espécie teve frequência de ocorrência de 100% e a maior abundância, e foi considerada a espécie mais especializada em seguir correições no estudo. Dez espécies de aves insetívoras ameaçadas de extinção foram registradas, sendo oito endêmicas do CEP. O estudo adiciona 20 novas espécies à lista de aves seguidoras de formigas de correição na Mata Atlântica. Os resultados indicam que a abundância de P. pernambucensis explica grande parte da riqueza e diversidade de aves nas agregações (p < 0,001). Esse resultado destaca o papel chave dessa espécie na dinâmica das comunidades de aves que seguem as correições. A prevalência de espécies ameaçadas, incluindo a espécie chave na formação de agregações de ASF, reforça a necessidade de atenção especial para a conservação desse fenômeno e das espécies envolvidas. Essas descobertas contribuem não apenas para a compreensão da ecologia das aves na região, mas também para a promoção de medidas de conservação eficazes, visando a proteção das espécies ameaçadas.