Fungos filamentosos associados a recifes de coral na Amazônia azul: Bioprospecção de metabólitos secundários e potenciais atividades biológicas
Antimicrobial activity, polyketides, chemodiversity, molecular taxonomy, Didymellaceae
Mudanças globais afetam os ecossistemas marinhos afetando corais e
sua microbiota. A zona costeira brasileira possui ~8000 km de extensão que
abrigam diversos ecossistemas, e vem sendo considerada a Amazônia
azul. Fungos fazem parte dos microrganismos que compõem a microbiota dos
corais e esponjas, representando 1% (~1900) das espécies descritas deste
grupo. Fungos marinhos produzem diversos produtos naturais
(PNs), através de rotas biossintéticas únicas, apresentando potenciais
atividades biológicas e participando da defesa do hospedeiro. Os PNs de
fungos marinhos têm se destacado na descoberta de novos anti-microbianos
contra patógenos emergentes. Neste trabalho objetivou-se bioprospectar e
carcaterizar metabólitos secundários com atividades biológicas de fungos
filamentosos oriundos de esponjas e corais na Amazônia azul. Meios de cultura
tradicionais, e técnicas baseadas na ativação de rotas biossintéticas foram
usadas para promover a síntese de metabólitos secundários
(MSs) de fungos, pertencentes a micoteca do laboratório de diversidade e
biotecnologia microbiana (LDBM) - UFAL. Técnicas de análises químicas foram
abordadas para realizar a anotação dos MSs sintetizados, e avaliação do seu
potencial biotecnológico no controle de patógenos emergentes humanos. Sete
espécies foram selecionadas da micoteca do LDBM-UFAL, Aspergillus
ruber FMPV 02; Epicoccum chloridis FMPV 05; Aspergillus sydowii FMPV
10; Aspergillus flavus FMPV 11; Curvularia sp. FMPV 12; Penicillium
pedernalense FMS 066; Pyrenochaetopsis sp. FMS 104. Foram avaliados
extratos obtidos a partir do micélio e sobrenadante do cultivo. Duas
linhagens, E. chloridis FMPV 05; A. sydowii FMPV 10 exibiram atividade
antimicrobiana contra Candida albicans, Cryptococcus
neoformans e a bactérias Staphylococcus aureus. Os extratos e frações dos
dois fungos continham diversos compostos, dos quais se destacaram as
dicetopiperazinas cyclo Leu-Pro (12.62 %) e seu isômero (21.15%), cyclo Phe-
Val (6.22%) e cyclo Pro-Phe (4.50%), como os possíveis responsáveis pelas
atividade anti-microbiana e pelo controle dos fatores de
virulência dos patógenos. A partir da estratégia uma linhagem muitos
compostos (OSMAC), o fungo A. sydowii FMPV 10 demonstrou atividade anti-
microbiana contra C. albicans e C. neoformans. Foi observada 95% de
diferença nos compostos sintetizados nos diferentes meios
utilizados, demonstrando que diferentes estratégias de cultivo potencializam a
produção de MSs com perfis químicos e biológicos diferentes. Fungos
filamentosos marinhos da Amazônia azul são uma fonte promissora na
obtenção de produtos naturais com potenciais biotecnológicos. As
linhagens E. chloridis FMPV 05 e A. sydowii FMPV 10 produziram moléculas
com atividade anti-microbiana, contra bactérias e fungos patogénicos à saúde
humana. No entanto, para entender o papel destes microrganismos nos
ecossistemas marinhos é necessário outros estudos que contemplem
estratégias e técnicas vizando ligar a químiodiversidade e
os papeis funcionais no ambiente marinho.