BASES HISTÓRICAS DO CONSERVADORISMO NO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO: a configuração do pensamento conservador no processo de preservação da ordem capitalista
Conservadorismo. Serviço Social. Reprodução Social. Capitalismo. Pós-modernismo.
A presente tese de doutorado aborda as bases estruturais que fizeram do conservadorismo uma tradição de pensamento e o avanço desta tendência no serviço social brasileiro, partindo dos fundamentos históricos e sociais que propiciaram a sua gênese e reposição na sociedade e no interior da profissão. Posto o eixo central da preocupação da pesquisa, tem-se como objetivo do estudo entender quais as relações sociais e econômicas que deram base para a constituição do conservadorismo e seu processo de inserção nos aspectos ideológicos e culturais da reprodução da sociedade de classes, impactando numa ofensiva conservadora no serviço social que se intensifica dado o recente cenário político e ideológico do Brasil nos últimos anos. A revisão bibliográfica foi a metodologia utilizada no processo da pesquisa, fundamentada no método de Marx a partir de uma análise histórica, crítica e dialética, tomando como recurso metodológico a análise imanente dos textos utilizados. O conservadorismo originou-se a partir dos escritos de Edmund Burke, decorrente da sua crítica moral ao levante francês do século XVIII e suas propostas progressistas, pois ameaçavam a estrutura social e as instituições tradicionais da época. Destaca-se a presença do irracionalismo nos escritos de Burke, donde Lukács critica o caráter reacionário da filosofia que tal autor defende, considerando a sua visível tomada de posição em face da luta de classes, gerando também o rebaixamento da filosofia e marcando sua oposição e recusa do materialismo, tornando-a um arcabouço ideológico para sustentar a dominação burguesa. Este debate requisitou uma análise do processo de estruturação e consolidação do capitalismo, destacando os seus mecanismos de preservação da ordem, a saber: a expropriação do trabalho, a colonização, o Estado e as crises como faces da reprodução do capital. A pesquisa apresenta ainda a análise do substrato ideológico conservador no Brasil, para o qual foi fundamental apreender o processo da formação sócio histórica do país enquanto lócus privilegiado para a estruturação do pensamento conservador no país e para a constituição dos seus valores morais dominantes. Traz um resgate histórico da gênese do serviço social latino americano e brasileiro e os movimentos de reestruturação da profissão, como a Reconceituação e a Renovação, e as principais influências teóricas que incidiram nesses movimentos, destacando as expressões históricas do conservadorismo ao longo da evolução da profissão. Finaliza com uma análise sobre as expressões do conservadorismo na contemporaneidade brasileira considerando os retrocessos políticos, ideológicos e da luta de classes que a configuração do conservadorismo contemporâneo e da ofensiva pós-moderna, pela sua resistência a razão dialética, têm causado à sociedade e ao serviço social, que se vê pressionado a adensar seus estudos sobre a obra de Marx para responder de forma crítica esta onda conservadora. Tem-se como pressuposto desta pesquisa que o avanço do conservadorismo no Brasil mantém relação intrínseca com as estruturas de poder estabelecidas no país, quando do seu processo de formação sócio histórica, e que perduram até a atualidade, perpetuando relações sociais e materiais que condicionam a reprodução da ordem capitalista. Ao analisar as bases estruturais que fundam o conservadorismo moderno e a trama de estratégias do capitalismo que possibilitam a sua reposição, esta Tese evidencia que o avanço do conservadorismo no serviço social, enquanto uma profissão historicamente determinada, aponta para a fragilização do debate teórico-crítico no seu interior, refletindo na apresentação de tendências pós-modernas que vão causar inflexões nos seus âmbitos ideológicos e políticos, uma vez que afeta a formação profissional e traz implicações para a implementação do seu projeto profissional de cunho ético e político.