CAPITAL FICTÍCIO E CRISES ECONÔMICAS: A DOMINAÇÃO FINANCEIRA NO CONTEXTO DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO
Capital fictício. Crises econômicas. Sistema financeiro. Financeirização.
Marx avalia, logo no início de O Capital, que a riqueza da sociedade no modo de produção capitalista baseia-se numa coleção de mercadorias que procura satisfazer as necessidades humanas de um tipo qualquer, independentemente de se a satisfação atenderá às necessidades do estômago ou da imaginação, ou, ainda, se a mercadoria será usada para usufruto direto de quem a adquiriu ou como meio de produção para outras mercadorias. Marx intenta expor os segredos da mercadoria que revelarão a estrutura econômica de funcionamento da sociedade capitalista. Na mesma obra, o pensador alemão já faz menção ao sistema de crédito, à dívida pública, ao mercado bursátil e a um desenvolvimento bancário que dará origem a uma classe de rentistas ociosos que obtêm seus ganhos a partir de empréstimos a grupos de capitalistas funcionantes e ao próprio Estado, formando uma aristocracia financeira que constitui uma riqueza parasitária. Contudo, no livro III de O Capital, ele admite que os títulos financeiros de capital fictício também são mercadorias comercializadas num mercado específico e relativamente insubordinadas à produção de riqueza real. Isso significa que o fetichismo alcançado com o desenvolvimento do capital financeiro atinge sua potência máxima quando consegue criar um tipo de mercadoria que se rebela ao processo real de valorização de capital. A dominação financeira do capitalismo contemporâneo surge como uma medida de contratendência às crises, que reaparecem no futuro com aspectos mais intensificadores e destrutivos. Para alcançar o objetivo de nossos estudos, realizou-se uma pesquisa de caráter bibliográfica, tendo no materialismo dialético o método condutor para a compreensão do movimento da realidade, capaz de mediar a relação entre consciência e concreto efetivo. Ademais, temos como principais referenciais teóricos Marx, Chesnais, Hilferding, Bukharin, Harvey, Coggiola, Grespan, Carcanholo, Mollo, Nakatani, Sabadini, entre outros. A tese está dividida em três seções, que versam sobre categorias fundamentais para o desenvolvimento da pesquisa, tanto para compreender a gênese do capital fictício como para entender os desdobramentos que conduziram ao capitalismo financeirizado. Na primeira seção, trata-se da mercadoria, da teoria do valor em O Capital e do capital portador de juros. Na segunda seção, discutem-se os fundamentos do capital fictício e as crises capitalistas que se desdobraram na concentração e na centralização de capitais no capitalismo monopolista, com reflexos importantes que determinaram a mundialização do capital na década de 1970/1980. Na terceira seção, analisa-se o resultado de décadas de superacumulação capitalista e as consequências da ruptura dos EUA com o acordo de Bretton Woods, a permitir que as orgias especulativas e o cassino global ficassem livres para criar riqueza fictícia. Conclui-se que a partir de uma análise ontológica do capital fictício, sua origem dependeu da formação do capital portador de juros, do mesmo modo que o capital portador de juros teve sua ontogênese nas relações do trabalho abstrato na produção de mercadorias. A tentativa de transformar o sistema financeiro no guardião dos interesses capitalistas tem conduzido tão somente à miséria e à destruição da humanidade, não restando alternativa senão a extinção humana ou a superação do capital.