A GEOGRAFIA ROMANESCA DE LÊDO IVO E A PAISAGEM DA CIDADE EMANADA DOS
MACEIÓS
Paisagem; Maceió; Lêdo Ivo; Geoliteratura.
Lêdo Ivo foi um devoto à paisagem, em especial a de sua terra
natal, Maceió, por quem nutria
um sentimento de enraizamento, algo que fez questão de deixar
explícito em sua literatura. A
capital alagoana esteve frequentemente presente nos devaneios
poéticos do escritor, onde
recordava as imagens da infância e da adolescência, período
em que viveu na cidade que
surgira dos maceiós, cheia de nomes de água. Esse processo
de reencontro com uma
geografia afetiva fez com que a sua obra fosse marcada por um
expressivo conhecimento da
paisagem do seu lugar de berço, um saber que é fruto da
própria vivência no ecúmeno. Dessa
forma, essa dissertação analisa a paisagem da cidade de
Maceió na prosa com narrativa longa
de Lêdo Ivo, especialmente Ninho de cobras e Confissões de
um poeta, contemplando um
mosaico vívido em cores, gestos, cheiros, sons e metáforas que
entregam a personalidade da
cidade na primeira metade do século XX. Seguindo os princípios
de uma geografia
humanística cultural, vertente da ciência do espaço que
reconhece o saber dos discursos e das
artes como detentores de um material geográfico carregado de
significativos, a paisagem
maceioense das páginas ledianas foi hermeneuticamente
apreciada não apenas como uma
representação do real, mas como um território construído e um
espaço de experiências
sensíveis. Logo, a paisagem, a cidade e o romance são
passíveis de leituras e, nesse sentido, a
obra de Lêdo Ivo é como um passeio guiado pelas ruas de
Maceió, descrevendo o cotidiano,
as experiências polissensoriais e as tensões sociais que são
marcantes na cidade. Assim, ele,
que cunhou para sua terra epítetos célebres como “cidade
peninsular”, para além da
contribuição à retórica da paisagem maceioense, legou às
gerações um inventário das formas
construídas por um povo e um testemunho do espaço vivido,
criando uma coleção de
personagens que representam bem a sociedade de Maceió,
com suas múltiplas formas de ser e
estar nessa paisagem, que é sombria em alguns momentos,
mas que não deixa de ser poética.