VARIABILIDADES PLUVIAL E FLUVIAL NA REGIÃO FISIOGRAFICA DO BAIXO SÃO FRANCISCO
chuva, vazão, bacia hidrográfica, semiárido.
Estudos recentes vêm apontando que as mudanças climáticas em curso poderão resultar na redução de chuvas e aumento das secas no Nordeste brasileiro, agravando assim o quadro de vulnerabilidade hídrica, especialmente em áreas que já apresentam certo grau de susceptibilidade, como é o caso da Região do Baixo São Francisco (RBS). Visando contribuir com o enfrentamento destas questões, o objetivo principal neste trabalho foi caracterizar as variabilidades e tendências significativas das chuvas e vazões na região fisiográfica do Baixo São Francisco. Para analisar as variabilidades e tendências pluviais utilizou-se uma série de dados mensais de precipitação de 1980 a 2013, cujos dados foram extraídos em 39 pontos da RBS, a partir do banco de dados de Xavier et al. (2016). Para analisar a variabilidade e as tendências fluviais do baixo curso do rio São Francisco foram utilizados dados mensais obtidos a partir do banco de dados da ANA (Agência Nacional de Águas) referentes ao período de 1982 a 2020, extraídos em três pontos (Piranhas/AL, Pão de Açúcar/AL e Propriá/SE). As estatísticas descritivas foram calculadas e o teste não-paramétrio de Mann-Kendall foi aplicado para identificar se há tendências na precipitação pluvial e nas vazões. A significância estatística adotada foi de 10, 5 e/ou 1%. Os resultados da análise das variabilidades pluviais mostraram que a região possui maiores quantitativos de precipitação de abril a julho, e menores de setembro a dezembro. Para a precipitação anual identificou-se acumulados que variam de 522 mm a 1241 mm a oeste e sudeste da RBS, respectivamente. A análise dos anos padrão apresentou quantitativos de precipitação que vão de 230 mm a 1.100 mm no ano seco (1993), 230 mm a 1.390 mm no ano habitual (1984) e de 520 mm a 1.982 mm no ano chuvoso (1989). Por sua vez, a aplicação do teste de Mann-Kendall evidenciou tendências de aumento da precipitação nas duas escalas temporais analisadas. Na escala anual, um aumento na ordem de 5,4 a 11,2 mm por ano foi observado em 28% dos pontos, os quais estão localizados em partes da porção oeste, central, leste e sudeste da RBS. Na escala sazonal, a estação do inverno apresentou tendências significativas de aumento da precipitação da ordem de 3,2 a 5,2 mm em 18% dos postos analisados, os quais se localizam em partes da porção oeste, central e leste da RBS. A análise de vazões médias mensais mostrou que as vazões mais elevadas ocorrem de janeiro a abril, com variação entre 2.040 e 2.470 m³/s, e as menores ocorrem de junho a agosto, com variação entre 1.520 e 1.727 m³/s. As vazões médias mensais apresentaram tendencias significativas negativas, com quantitativos de redução mais elevados entre janeiro e abril. As vazões médias anuais também apresentaram tendências de redução, com quantitativos variando entre -35.84 m³/s e -42.53 m3/s. Por fim, foi verificado que o regime de vazões tem sido fortemente afetado pela regulação das vazões, que tem culminado na redução dos períodos de cheias e de secas e também tem levado a reduções mais severas, conforme foi observado entre os 2013 e 2019, quando as vazões defluentes a Sobradinho foram continuamente rebaixadas, levando a uma série de impactos socioambientais no RBS.